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Wagner Montes ajudou a renovar a linguagem do jornalismo popular na TV

Mauricio Stycer

26/01/2019 14h36

Os programas policiais vespertinos representam, com razão, a pior face do jornalismo da televisão. Muitas vezes irresponsáveis e sensacionalistas na busca pela audiência, ou atuando como "justiceiros", como se fossem polícia ou Justiça, apresentadores deste tipo de programa se tornaram celebridades, ficaram ricos e, não raro, ingressaram na política.

Wagner Montes (1954-2019) é um personagem importante nesta história. Tanto no rádio quanto na TV, desde os anos 1970, sempre combinou jornalismo com entretenimento. Não à toa, virou uma celebridade pelas mãos de Silvio Santos na TVS (RJ) e no SBT – do "Povo na TV" ao "Show de Calouros", passando pelo "Aqui Agora".

Mas foi na Record, a partir de 2003, que lapidou o seu estilo. Primeiro apresentador do "Balanço Geral" no Rio, entendeu que o humor tinha papel importante neste tipo de programa – atenua o peso do noticiário e cria uma relação de cumplicidade com o espectador. Carismático, improvisando muito, usando bordões ("Escracha!") e debochando, tanto de criminosos quanto de autoridades, moldou a imagem de um tipo independente, corajoso.

"Ele mudou os rumos do jornalismo brasileiro. O jornalismo falado, comentado, brincalhão, em pé, combativo", reconhece um concorrente, o jornalista Diego Sangermano, editor regional de jornalismo e programação do SBT Rio. "O 'Balanço Geral Rio' do Wagner foi um espelho para todos os regionais e, sem surpresa alguma, virou nacional."

"Antes de Wagner o apresentador era leitor de TP (teleprompter)", diz Sangermano. "Ele virou marca e os clientes viram no jornalismo potencial de venda. O telespectador comprava porque o Wagner pedia. Deixou de ser um jornal e virou programa jornalístico".

"Conhecido pela irreverência e luta social que marcou seu trabalho ao longo de 35 anos como jornalista de TV, Wagner Montes foi um campeão de audiência e um dos apresentadores de maior sucesso na televisão brasileira", confirma a Record, em nota oficial.

Montes elegeu-se deputado estadual pela primeira vez em 2006 e cumpriu três mandatos na função. Em 2018, se elegeu deputado federal.

Abaixo, um momento antológico de Montes no "Balanço Geral", em janeiro de 2010:

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.