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Público enxerga com olhos de Santo em linda homenagem a Domingos Montagner

Mauricio Stycer

26/09/2016 21h50

Santo vive! No primeiro capítulo de "Velho Chico" gravado depois da morte de Domingos Montagner, exibido nesta segunda-feira (26), o espectador viveu a experiência de estar presente em cena, pelos olhos do personagem que o ator vivia na novela.

Por decisão do autor, Bruno Luperi, e do diretor, Luiz Fernando Carvalho, as cenas de Montagner foram mantidas, mas os demais personagens passaram a contracenar com a câmera, como se ela fosse Santo. "Essa tragédia implicou em algumas mudanças do texto. No capítulo desta segunda-feira começa esta nova linguagem. Onde ele (Santo) tinha que estar ele vai estar, desta maneira subjetiva. Sempre participando e fazendo parte das situações", disse Luperi ao UOL um pouco antes de a novela ir ao ar.

"As mudanças não foram estruturais. Alguns personagens assumiram funções dele, como o Bento (Irandhir Santos). Sem desrespeitar a natureza dos personagens. Então, foi tudo preservado, do ponto de vista da história", disse o autor. O recurso da "câmera subjetiva" deixou bem claro para o público que Santo estava presente em cena. "O resultado, estético, ficou muito bonito. É uma singela homenagem", observou.

"Na direção, eles tiveram a possibilidade de dilatar um pouco o tempo de fala. Os atores estão curtindo muito olhar para a câmera, falar com a câmera, interpretarem em outro tempo. As luzes também estão diferentes. Está sublime. Não é nada lúgubre, pesado. É uma homenagem à vida", acrescentou o autor, neto de Benedito Ruy Barbosa.

No primeiro bloco de "Velho Chico", houve dois blocos de cena. No primeiro, passado na casa da família Dos Anjos, Miguel (Gabriel Leone) e Olivia (Giullia Buscacio) contam para toda família que vão se casar e que estão esperando um filho.

No terceiro bloco, Bento encontra Santo vestido para o casamento de Olivia e Miguel. O irmão mais novo diz ao mais velho que não combina vê-lo de gravata. E assim, enquanto fala com a câmera, o personagem de Irandhir vai tirando a gravata de Santo. De chorar.

A edição incluiu alguns áudios de Santo, aproveitados de falas antigas de Domingos Montagner na novela. Um "te amo" para a filha Olivia. Também alguns "sim" e "é" em resposta a falas de Bento e Tereza, além de "cuide bem da minha filha". A própria respiração do personagem reverberou em cena.

Algumas cenas, previamente escritas, foram adaptadas para a nova situação. Foi o caso da conversa de Tereza e Miguel antes do casamento, que seria com Santo, bem como a de Olivia e Bento.

Na cena do casamento, aliás, foi possível notar que a atriz Giullia Buscacio não resistiu à emoção e chorou abertamente (veja no álbum de imagens no alto).

Todas as principais falas dos atores foram dirigidas diretamente à câmera, ou seja, a Santo. Ficou claro, sem que ele precisasse responder, que o personagem estava presente em cena. Triste, mas muito bonito. Ou, como diz o diretor Luiz Fernando Carvalho: "Linguagem é vida".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.