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Especulação sobre causa de acidente compromete cobertura da morte de Campos

Mauricio Stycer

13/08/2014 21h37


A cobertura da morte de Eduardo Campos foi, possivelmente, a mais difícil enfrentada pela televisão brasileira desde a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, em janeiro de 2013. Inesperado, chocante e com poucas informações oficiais, o desastre aéreo que causou a morte do candidato do PSB à Presidência e outras seis pessoas colocou as principais emissoras diante de um desafio difícil e complexo.

Pequenos erros e falhas técnicas são comuns e aceitáveis nestas coberturas "a quente", nas quais os canais permanecem ao vivo por longos períodos de tempo. O que é menos compreensível é o açodamento, a pressa em dar notícia sem ter certeza absoluta dela.

No caso da morte de Campos, a primeira e grande dificuldade foi justamente a confirmação de que o pior havia acontecido. E essa questão foi enfrentada com diferentes graus de cautela (ou falta dela). O canal pago Globo News, por exemplo, deu a morte como certa, recuou e voltou a confirmá-la em questão de minutos.

Os noticiários do inicio da tarde na TV aberta deram, como era de se esperar, tratamento prioritário ao acidente. Foi quando outros problemas começaram. Com audiência em alta, mas pouco a dizer, âncoras da Globo, Record e Band repetiam as poucas informações disponíveis até então.

Ao longo da tarde a situação se agravou. Os programas policiais vespertinos sofrem diariamente com a dificuldade de ter muito tempo disponível e conteúdo insuficiente para preenchê-lo. No caso da morte de Campos, a opção de "Ta Na Tela" e "Brasil Urgente" na Band e "Cidade Alerta" na Record foi discutir as possíveis causas do acidente.

Mas como fazer isso sem informações? Cada um a seu estilo, uns gritando mais, outros menos, Luiz Bacci, José Luiz Datena e Marcelo Rezende estimularam, no limite da responsabilidade, todo tipo de chute a respeito do assunto.

A Globo preferiu exibir a sua programação normal no final da tarde, interrompendo-a para boletins especiais. Soou estranho ver "Cobras e Lagartos" e "Malhação" no ar enquanto os seus concorrentes tratavam da notícia do dia.

À noite, já com mais tempo para preparar e embalar o material apurado, os telejornais das principais emissoras deram tratamento prioritário, extenso e, felizmente, sóbrio ao assunto.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.