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Por que o texto da novela “A Dona do Pedaço” é tão pobre

Mauricio Stycer

13/10/2019 05h01

Esta semana, Fabiana (Nathalia Dill) foi ao banco avisar que Maria da Paz tem um negócio próspero

Acredito que a baixa qualidade do texto de algumas novelas é intencional. Já escrevi isso algumas vezes. Suspeito que, diante da fuga de parte da audiência, alguns autores estejam buscando segurar os seus espectadores entre as faixas menos alfabetizadas e informadas da população.

"A Dona do Pedaço" me parece exemplar desta estratégia. Walcyr Carrasco é um autor experimentado e qualificado, assim como o seu time de colaboradores. Cenas ruins e mal escritas não podem estar saindo do seu computador por pressa ou acidente.

Elas cumprem a dupla função de, por um lado, seduzir parte do público com narrativas simplórias e, por outro, provocar discussões e polêmicas entre os espectadores mais esclarecidos, ainda fiéis à novela. Os números de audiência parecem confirmar que a estratégia é correta.

Foi o caso, mais uma vez, no capítulo desta terça-feira (08). Uma cena absolutamente ridícula, inverossímil, se tornou assunto nas redes sociais.

Fabiana (Nathalia Dill) descobre que Maria da Paz (Juliana Paes) está inadimplente. Ela, então, vai ao banco que concedeu um empréstimo à boleira, é recebida por três gerentes e avisa que sua rival está prosperando com um negócio novo. Os funcionários passam informações privadas sobre a dívida de Maria da Paz à vilã, além de discutirem e divergirem entre si, na frente dela, sobre o empréstimo que o banco concedeu.

Além da situação improvável, os diálogos são, como sempre, crus, sem qualquer refinamento. Fabiana e os gerentes conversam de forma grosseira, como se não tivessem qualquer traquejo social, o que não combina com os perfis dos personagens.

Na sequência, dois dos funcionários vão ao encontro de Maria da Paz em sua loja para cobrar a dívida. Ou seja, só depois que Fabiana procura o banco é que eles se lembram que a boleira deve dinheiro à instituição financeira. Por fim, em uma terceira cena, com a ajuda do advogado Amadeu (Marcos Palmeira), a protagonista renegocia a sua dívida com o banco.

Diante de críticas a cenas como essa, costumo ouvir uma resposta-padrão: "Ah, é novela". Esse comentário costuma ser feito por espectadores que não têm o hábito de assistir novelas.

O noveleiro apaixonado, mas esclarecido, tem as suas preferências, reconhece que há boas e más novelas, enredos melhores e piores, direções corretas e outras menos inspiradas, interpretações brilhantes e medíocres. Tudo isso faz parte.

Mas o gênero que o noveleiro aprendeu a cultivar nas últimas décadas só se tornou o mais importante na programação da TV aberta brasileira porque estabeleceu alguns padrões de qualidade, em especial quanto ao texto. "A Dona do Pedaço" ofende este espectador.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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