“Bom Sucesso” estreia com ode aos livros; Fagundes e Grazi brilham
Mauricio Stycer
29/07/2019 20h41
Na contramão destes tempos em que se celebra a ignorância em vários campos, é preciso festejar que uma novela aproveite o seu primeiro capítulo para exaltar os livros e o conhecimento.
"Bom Sucesso", de Rosane Svartman e Paulo Halm, não apenas traz um editor de livros entre os protagonistas, como deu a entender que pretende tratar de literatura no horário das 19h. "Num país de analfabetos, os poucos que têm cultura são os que me interessam", disse Alberto (Antonio Fagundes).
Não por acidente, o capítulo de estreia falou de "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes, e de "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, livros cujas histórias parecem ter inspirado personagens da trama. A música-tema, igualmente, deu pistas sobre o tom da novela. Trata-se da magnífica "O Sol Nascerá", de Cartola e Elton Medeiros, que diz: "A sorrir / Eu pretendo levar a vida, / Pois chorando / Eu vi a mocidade perdida."
"Bom Sucesso" apresentou em detalhes a história de Paloma (Grazi Massafera), uma costureira humilde e esforçada, que cria sozinha, com enorme ternura, os três filhos. Solar, à vontade e muito segura, a atriz que vive a protagonista brilhou muito.
Por acidente, a sua história se cruza com a de Alberto. Paloma, literalmente, cai no colo do editor em uma boa cena cômica num laboratório. Os exames de sangue dos dois são trocados e, ao final do capítulo, ela é informada que está gravemente doente e tem seis meses de vida.
O artifício para estabelecer o ponto de partida da trama não é original, mas é cedo para dizer se vai ser explorado com engenhosidade ou não.
Fagundes estava distante das novelas desde "Velho Chico" (2016). Vê-lo numa novela das 19h é um prazer. O ator deitou e rolou no capítulo de estreia. Deu gosto de ver.
Um fato que não ocorria há alguns anos merece registro: cenas do primeiro capítulo foram gravadas no exterior, no caso, em Chicago (EUA), para apresentar Ramon (David Junior), outro dos protagonistas da trama.
Para "Bom Sucesso", a dupla se cercou de vários profissionais que atuaram em "Totalmente Demais", a começar pelo diretor-artístico Luiz Henrique Rios, além de outros diretores e colaboradores de texto.
Os seis leitores mais antigos do blog sabem que considero ingrata a tarefa de escrever sobre primeiros capítulos de novelas pois eles raramente permitem enxergar o que virá nos 150 episódios restantes. Achei a estreia de "Bom Sucesso" bem simpática, mas não é possível dizer muito mais do que isso.
Veja também
Morte iminente, representatividade e transição: as tramas de Bom Sucesso
"Poderia fazer papel de mulher, igual a Grazi", diz trans de "Bom Sucesso"
Bom Sucesso, nova novela das sete é "um hino à vida", segundo seus autores
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.