Repórter casada com empresário de jogador é afastada de cobertura da Globo
Mauricio Stycer
05/06/2019 18h10
Uma reportagem exibida no "Globo Esporte", no Rio, nesta segunda-feira (03), chamou a atenção de gente que conhece os bastidores do Flamengo. O assunto era o desejo do volante colombiano Cuellar de atuar em um clube europeu. "O que o Cuellar tem a dizer sobre deixar o Flamengo para jogar na Europa?", anunciou o apresentador Alex Escobar.
Após mostrar imagens da vitória do Flamengo sobre o Fortaleza por 2 a 0, incluindo o momento em que Cuellar foi substituído, a repórter Ana Helena Goebel disse: "Esta imagem pode ser a última do Cuellar com a camisa do Flamengo. Ele foi convocado pela Colômbia para a Copa América e pode não voltar. Clubes europeus estão de olho no volante. O contrato dele termina apenas em junho de 2022, mas com 26 anos, e no auge de sua carreira, a próxima janela se tornou uma ameaça pro Flamengo".
O jogador, entrevistado em seu apartamento, disse: "Jogar na Europa é um sonho, sim. Para todo jogador sul-americano é". Cuellar falou que tem metas, o que inclui jogar na Europa. E disse, em tom de despedida: "O Flamengo é sempre um clube que vou levar no coração, gratidão eterna".
O jornalista Tiago Cordeiro, que assina o blog Cronista Esportivo, enxergou um grave conflito de interesses na reportagem do Globo Esporte já que a repórter é casada com Gianfranco Petruzziello, proprietário da empresa Forza Carreira Esportiva, que representa Cuellar. Na visão de Cordeiro, a reportagem buscou "criar uma narrativa", já que, segundo ele, não há propostas concretas de clubes estrangeiros para o jogador.
O caso provocou muito estranhamento na Globo e está sendo objeto de uma averiguação interna. Oficialmente, a emissora disse apenas o seguinte: "A repórter Ana Helena Goebel deixará a cobertura da Copa América até que tudo seja esclarecido."
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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