Com câncer, crítico de cinema defende o direito de o paciente ter voz
Mauricio Stycer
26/04/2019 00h09
Um dos mais importantes críticos de cinema do país, e também professor, romancista e ator, Jean-Claude Bernardet deu uma entrevista impactante na noite desta quinta-feira (25) ao programa "Diálogos com Mario Sergio Conti", exibido pela GloboNews.
Bernardet tem o vírus HIV sob controle já há anos, enfrentou um câncer na próstata, se curou, mas voltou a sofrer com a doença, agora na região pélvica. E decidiu interromper o tratamento após duas sessões de radioterapia.
"Considerando a minha idade, 82 anos, e considerando que estou quase cego, não vejo bem por que passar por um tratamento tão pesado pra prolongar (a vida) e de forma tão pesada", disse a Conti.
A decisão de continuar vivendo com uma certa qualidade, como diz, é também um gesto político. "O paciente tem direito a voz. Ninguém te pergunta nada. O paciente é tratado como um objeto. Você é o portador de uma doença", disse.
Bernardet critica a forma como os médicos lidam com o diagnóstico e o tratamento da doença de forma automática e pouco humana. "Não são médicos de pacientes, são médicos de protocolo, aplicam o tratamento padrão", disse. "Devemos ter uma relação lúcida e realista com os médicos", defendeu.
"Não é porque a pessoa não se trata que é um doente terminal. Recebi muito apoio. É uma atitude que tem um aspecto político, que é tentar dar voz ao paciente e não tratá-lo como objeto", insistiu, justificando a decisão de tornar pública a atitude que adotou.
Conti observou que o relato de Bernardet é "muito racional e admirável", mas questionou o crítico se ele não se incomodava de expor a intimidade. "Nossas vidas pessoais não são tão pessoais assim. Sou um ser social. Quando falo do meu câncer, estou falando também de outras pessoas", respondeu.
A entrevista será reprisada no domingo, às 2h30 e às 21h30. Recomendo.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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