Realidade supera ficção e tara de delegado na novela não choca mais ninguém
Mauricio Stycer
08/03/2019 05h01
Com a chegada da internet a Serro Azul, a falsa puritana Mirtes (Elizabeth Savalla) resolveu botar fogo na cidade. Sob o pseudônimo de Tarja Preta, ela difundiu uma fofoca explosiva: um ilustre morador usa calcinha, escreveu ela.
Quem acompanha "O Sétimo Guardião" desde o início está a par da tara do delegado Joubert Machado (Milhem Cortez), compartilhada prazerosamente por sua mulher, Rita de Cassia (Flavia Alessandra). Agora, com a fofoca espalhada pela internet, todo mundo sabe.
Aguinaldo Silva vinha usando Machado e Mirtes para brincar com dois extremos – a liberdade sexual e o falso moralismo. A ação de Tarja Preta, exibida no capítulo desta quinta-feira (07), já está gerando consequências – e uma boa discussão.
Por outro lado, o padre Ramiro (Ailton Graça) lamenta "os pecados modernos, que chegaram com a internet e as redes sociais: a difamação cibernética, o exibicionismo social e a inveja virtual".
Por acaso, porém, o pecado de Machado se tornou público na mesma semana em que o presidente Jair Bolsonaro compartilhou um vídeo que o chocou no Carnaval, no qual um homem urinava sobre um outro.
O fetiche, chamado de "golden shower", era pouco conhecido, mas ganhou enorme notoriedade após a mensagem presidencial no Twitter. Sites de busca, como o Google, e de vídeos pornográficos registraram recordes de pesquisas sobre o termo.
Na comparação com os carnavalescos que praticaram "golden shower" em público, o fetiche do delegado Machado, usar calcinha, não choca mais ninguém. "O Sétimo Guardião" foi atropelado pela realidade. Aguinaldo Silva precisa inventar uma nova tara, mais pesada, para o seu personagem.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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Sobre o blog
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