Globo critica falta de perguntas a Flavio Bolsonaro em entrevista da Record
Mauricio Stycer
21/01/2019 05h01
Fato muito incomum, neste domingo (20) a Globo fez uma crítica pública ao jornalismo praticado pela concorrente Record. Deu-se durante o "Fantástico" e fez menção a uma entrevista exibida minutos antes por seu concorrente direto, o "Domingo Espetacular".
O senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) deu uma entrevista ao dominical da Record na qual respondeu a duas denúncias divulgadas pelo "Jornal Nacional" nas edições de sexta (18) e sábado (20).
O telejornal da Globo revelou, primeiro, que entre junho e julho de 2017, Bolsonaro recebeu 48 depósitos no valor de R$ 2 mil cada, em espécie, feitos no caixa eletrônico da Assembleia Legislativa do Rio. Um dia depois, relatou que o senador eleito pagou um título bancário de R$ 1.016.839, emitido pela Caixa Econômica Federal, sem indicar o favorecido.
Bolsonaro disse ao repórter Lúcio Sturm que os depósitos de R$ 2 mil feitos em sua conta se referem a dinheiro dele mesmo, fruto da venda de um apartamento que foi feita, parcialmente, em espécie. Este mesmo apartamento também foi citado como explicação do pagamento de R$ 1.016.839 de um título bancário da Caixa. O valor, disse, refere-se à quitação da compra deste imóvel em um momento anterior.
Os apresentadores do "Fantástico", Ana Paula Araújo e Tadeu Schmidt, resumiram em 60 segundos o conteúdo das respostas dadas por Bolsonaro à Record. Em seguida, Ana Paula observou que o programa concorrente deixou de fazer duas perguntas ao senador eleito que poderiam ter esclarecido melhor o que foi dito. E, com alguma ironia, registrou que o senador eleito não respondeu a uma questão essencial por que não foi questionado a respeito.
"Ao senador, não foi perguntado, e por isso ele não respondeu, por que optou por 48 depósitos de R$ 2 mil com diferença de minutos em cada operação em vez de depositar o total que recebeu em espécie de uma só vez na agência bancária onde tem conta. Também não foi questionado por que preferiu receber parte do pagamento da venda em dinheiro e não em cheque administrativo ou transferência bancária (veja no vídeo abaixo)."
Ao longo da segunda-feira (21), os principais telejornais da Globo e da GloboNews repetiram parte desta crítica, acrescentando que Flavio Bolsonaro também deu entrevista à RedeTV! na noite de domingo. Um mesmo texto foi lido por diferentes apresentadores: "Não foi perguntado ao senador em nenhuma das duas entrevistas, e por isso ele não respondeu, por que optou por fazer 48 depósitos de R$ 2 mil com diferença de minutos em cada operação em vez de depositar o total que recebeu em espécie de uma só vez na agência bancária onde tem conta".
Repórter da Record responde a críticas sobre entrevista com Bolsonaro
Ouvido pelo blog, o repórter Lúcio Sturm conta que foi convocado para fazer a entrevista com Flavio Bolsonaro 90 minutos antes do horário marcado para o encontro. A entrevista foi realizada às 19h de domingo para ir ao ar ainda naquela noite (o "Domingo Espetacular" termina às 22h30). Sturm afirma que teve liberdade para perguntar o que quisesse ao senador eleito.
O repórter lamenta que não fez uma pergunta, sobre a filha do assessor Fabrício Queiroz, Nathalia, que trabalhou no gabinete de Flavio Bolsonaro. Sobre os depósitos de R$ 2 mil, segundo o repórter, a explicação do senador eleito é que eles ocorreram quando a agência bancária já estava fechada. E que, segundo ele, o período dos depósitos foi de três meses e não de um mês como divulgado.
Atualizado às 10h45 e às 16h de 21/1.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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