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Falar que o público não deve pensar diante da TV é preconceito, diz Melhem

Mauricio Stycer

11/01/2019 05h01

Sátira da série americana "Walking Dead", exibida na temporada passada do "Tá no Ar"

Reproduzo abaixo trechos da entrevista realizada com Marcius Melhem, um dos criadores do "Tá no Ar", sobre o final do programa. Ele fala sobre o que o espectador pode esperar desta última temporada, que começa na próxima terça-feira (15). Revela o que lamenta não ter conseguido fazer ao longo das seis temporadas. E responde à crítica de que o programa representa um tipo de humor elitista, não apropriado para a TV aberta.

O que esperar da última temporada do "Tá no Ar"?
Marcius Melhem: Fazer uma última temporada é muito difícil. Quando você vai fazer qualquer temporada você está com aquela gana de surpreender, de criar uma coisa nova, de gerar algo que vai renovar a tua vontade de fazer aquele programa. Quando você decide encerrar um programa, o pensamento passa a ser o que foi visto este tempo todo que as pessoas gostariam de se despedir e ao mesmo tempo o programa honrar com a tradição de atacar os assuntos, de surpreender. Um programa como o "Tá no Ar", que está sempre buscando um lugar novo para chegar, é um contraste muito grande você estar fechando esta tampa, buscando encerrar, fechar determinados lugares.

Corre o risco de ser uma temporada mais melancólica?
A gente se esforçou muito para não ser. Para a gente brincar com o fim. Fazer o que chamamos de um alegre funeral. Fazer uma festa de despedida. Vai ser uma temporada normal, falando das coisas que a gente sempre falou, olhando para o país, para a televisão, falando deste momento que a gente vive, e lá no último programa a gente encerra, faz a despedida dos personagens e deste lugar onde a gente chegou.

Você pode citar algo que não conseguiu ter feito no "Tá no Ar"? E algo que você se arrepende de ter feito?
Que eu me arrependa, nada. É lógico que tem quadros que você acredita e não vão tão bem, mas isso é do jogo. Talvez tenha faltado a gente conseguir mais personagens fixos. Chegou um momento em que a gente ficou numa cilada. Estes personagens muito queridos, o Tony (Karlakian) e o Rick (Matarazzo), a Galinha Preta Pintadinha, o Jorge Bevilácqua, caíram no gosto do público. Tem um número de personagens fixos. Para você entrar com outros, você tem que tirar alguns. Porque, do contrário, o programa fica todo de personagens fixos. A gente não conseguiu, ao longo do tempo, desgarrar dos personagens para criar novos. Sinto falta de ter feito mais personagens que permanecessem.

Como você responde à crítica que o "Tá no Ar" representa um tipo de humor mais elitista, mais difícil, menos popular do que seria desejável para a TV aberta?
Parte desta crítica embute um preconceito com nosso povo, de que tudo que é inteligente, ou supostamente inteligente, não é popular, compreensível pela população. Além de equivocada, é uma premissa que ignora a própria missão da televisão, que é de puxar a corda disso, de provocar o público, de fazê-lo pensar. A premissa de que o público não deve pensar muito diante da televisão é errada, equivocada, preconceituosa com o público. Um programa como o "Tá no Ar" tem várias manhas para enfrentar esta questão. As piadas muito de nicho, para quem assina streaming, por exemplo, geralmente são muito curtas ou tem camadas de entendimento, que permitem ao espectador rir mesmo sem ter visto a série. Como a piada com "Walking Dead" na temporada passada. Mesmo quem não via a série, entendia que era uma piada sobre comportamento, sobre a sociedade atual, feita em formato de seriado de zumbis.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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