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Raul Gil abre espaço no SBT para ataque gratuito a jornalista do UOL

Mauricio Stycer

10/12/2018 09h50


O empresário Luciano Hang, proprietário da rede de lojas Havan, foi o convidado deste sábado (08) no "Programa Raul Gil", no SBT. "Um amigo, um dos maiores empresários do Brasil, 120 lojas, hoje inaugurando em Passo Fundo. Parabéns", justificou o apresentador.

Hang ficou no ar por 64 minutos. Ganhou dois vídeos especiais. No primeiro, a sua história foi apresentada em retrospectiva. "Nunca deixou ninguém limitar os seus horizontes", disse o narrador. No segundo, Celso Portiolli, Ratinho, amigos, os filhos, a mulher e a mãe falaram palavras elogiosas a seu respeito.

Raul Gil observou: "Uma coisa que eu quero parabeniza-lo é que você é uma pessoa que incentiva a publicidade. A gente vê você fazer publicidade em muitos canais, em muitos programas. Para nós, que temos um programa, isso é maravilhoso".

Também disse, antes de começar o quadro "Pra Quem Você Tira o Chapéu": "Ele é tão grande empresário que, às vezes, alguém cria uma polêmica em cima dele, mas ele sabe como sair bem, vocês vão ver".

As escolhas de Hang, em sua maioria, não surpreenderam. Depois de se engajar publicamente na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, ele tirou o chapéu para o presidente eleito e também para Sergio Moro, Donald Trump, Regina Duarte e os funcionários da Havan.

Não tirou para as universidades federais ("tem servido para doutrinar os alunos ao comunismo"), Fernanda Lima (apresenta um programa que é "uma vergonha para a família brasileira"), Fernando Henrique Cardoso ("enganou a mim e a todos os brasileiros; ele se diz socialista, e socialista é um comunista envergonhado"), e Lula ("roubou a esperança do povo brasileiro; dividiu o Brasil").

Hang também não tirou o chapéu para o jornalista Leonardo Sakamoto, que mantém um blog sobre política e direitos humanos no UOL. Foi Sakamoto quem primeiro noticiou, em setembro, que o Ministério Público do Trabalho está processando o empresário por intimidar seus empregados a votarem em Bolsonaro na eleição presidencial.

A notícia foi publicada em seguida nos principais jornais e sites de todo o país. O profissional do UOL merece o crédito pelo "furo", como dizem os jornalistas. Hang disse que investigou os sete procuradores do MPT responsáveis pela ação e descobriu que um deles curte a página de Sakamoto no Facebook. Não há nenhum crime nisso. Ao contrário, hoje é uma obrigação jornalistas manterem contatos nas redes sociais com potenciais fontes de informação das mais variadas áreas e vice-versa.

"Ele trabalha para a Folha de S.Paulo. Ele deve ser socialista, comunista", disse Hang. "Quanto mais lê o Sakamoto, mais burro fica. Foi dele o furo de reportagem… Porque é de esquerda. Quer calar quem fala a verdade. Sakamoto, Folha de S.Paulo, fake news."

Jornalista e doutor em Ciência Política pela USP, Sakamoto é professor de Jornalismo na PUC-SP, diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.

Diferentemente das justificativas que deu para não tirar os outros chapéus, Hang não apresentou nenhum motivo para ofender Sakamoto, que trabalha para o UOL, e não para a "Folha", como disse o empresário. Foi um ataque gratuito, procurando intimidar o jornalista. Se entendi direito, a sua ira é contra o Ministério Público do Trabalho. Mas a notícia que está sendo processado seria divulgada de qualquer maneira.

"O problema desse tipo de ataque é que ele empodera pessoas comuns a atacarem jornalistas, nas redes e nas ruas. Isso é um perigo para a liberdade de expressão e para a democracia", alerta Sakamoto.

Raul Gil procurou se esquivar do que foi dito no palco do seu programa: "Eu quero dizer a vocês que tudo que ele está falando é opinião dele. E a intenção dele é fazer as coisas direita, fazer as coisas normais e fazer com que o Brasil mude e volte a ser aquele Brasil abençoado por Deus, aquele Brasil em que a gente tenha respeito, muito mais respeito". E também disse: "Eu sou neutro. Eu fico neutro. Não sei de nada. Você… peitudo. Falou o que sente."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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