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No Conversa com Bial, mulheres acusam médium João de Deus de abuso sexual

Mauricio Stycer

08/12/2018 02h16

Bial entrevista a holandesa Zahira, que relatou abuso sofrido, e a americana Amy, que testemunhou um caso

Sem banda musical nem plateia, o "Conversa do Bial" desta sexta-feira (08) exibiu um conteúdo diferente do habitual – e muito chocante. Quatro mulheres deram depoimentos sobre abusos sexuais sofridos em sessões com o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus.

Desde 1976, ele faz atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). É o mais famoso médium brasileiro e o seu trabalho atrai, também, muito interesse de estrangeiros.

"Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus, muito menos a fé de milhares de pessoas que o procuram", avisou Bial antes de exibir os depoimentos. "Estamos apenas dando voz a mulheres que se sentiram abusadas sexualmente pelo médium".

O jornalista informou que ele e a repórter Camila Appel ouviram, separadamente, denúncias de dez mulheres. Mas, por uma questão de tempo, apenas quatro depoimentos foram exibidos.

O programa mostrou duas tentativas de ouvir João de Deus a respeito das acusações. Em nota, a sua assessoria declarou que o médium "rechaça veementemente qualquer pratica imprópria em seus atendimentos".

No estúdio, Bial recebeu a coreógrafa holandesa Zahira Nieleke Lous, que relatou assédio sexual sofrido, e a americana Amy Biank, que esteve 45 vezes em Abadiânia e levou 1.500 pessoas lá, e afirmou ter visto João de Deus forçar uma mulher a fazer sexo oral com ele.

Em seu depoimento, Zahira disse que hoje não sabe se João Deus "tinha incorporado a entidade ou se estava fingindo que tinha incorporado" quando começou a atendê-la. Ela se recordou assim do que ocorreu: "Pensei: por que tenho que colocar minha mão no seu pênis para ser curada? Me colocou de joelhos diante dele. Abriu a calça e colocou a minha mão no seu pênis." Em outro encontro, a coreógrafa disse que foi penetrada por trás pelo médium.

Outras três mulheres, brasileiras, também deram depoimentos sem mostrar o rosto e com a voz distorcida para não serem reconhecidas. Os relatos são todos muito semelhantes. Todas foram obrigadas a masturbar o médium. Ele pediu em várias ocasiões que elas fizessem sexo oral nele.

Uma delas relatou que o médium passou a mão no corpo dela. "Só pensava: como eu vou sair daqui? Se eu gritar, eu vou ser apedrejada aqui dentro". Outra disse: "Não fui curada ou ajudada. Fui abusada". Uma mulher de 33 anos contou que João de Deus pediu pra ela segurar o pênis dele. "Isso é uma ferida enorme".

"Tenho a esperança de inspirar outras mulheres", disse Zahira. "Nós não temos que sentir vergonha; ele é que tem que sentir vergonha".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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