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Em dia de fúria, Faustão avisa: “Toda merda que eu falo é da minha cabeça”

Mauricio Stycer

27/05/2018 20h40

Não é de hoje que Fausto Silva vem dedicando bastante espaço no seu "Domingão" para fazer comentários sobre a situação política do país. Mas neste domingo (27) em particular, em meio à greve dos caminhoneiros, o apresentador estava especialmente furioso.

Sua primeira frase foi: "Alô galera, no país do caos são 6 horas e 9 minutos, 45 segundos. O 'Domingão' invade a sua televisão". Nas duas horas seguintes, fez críticas ao governo Temer, aos grevistas, a toda classe política, aos artistas, ao que ele chamou de "classe rica" e, claro, à própria produção do seu programa.

Foi um "Domingão" de tanta fúria que Faustão achou por bem esclarecer: "Eu não uso ponto eletrônico. Toda merda que eu falo é da minha cabeça. Não é de ninguém falando pra mim. Falo por mim."

O comentário veio em resposta a um elogio de Rogério Flausino, do Jota Quest, sobre a aposta em música do programa. Faustão disse: "A gente tem mania de meter o pau onde trabalho. Eu mesmo faço as críticas que tenho que fazer aqui. Agora, justiça seja feita: se tem uma empresa que dá condição pra você trabalhar é a tal da Rede Globo. Aqui você tem liberdade".

Nestes improvisos críticos, Faustão começa a falar sem saber muito bem onde vai acabar, se perde, improvisa e, mesmo quando o discurso não faz muito sentido, todo mundo entende e aplaude. Abaixo, alguns dos comentários deste domingo:

Ao apresentar o ator Alexandre Borges, que está na novela "Deus Salve o Rei", ambientada em época medieval, Faustão disse: "Na Idade Média, os problemas eram os mesmos, né? Falta no abastecimento, corrupção, incompetência e a historia se repete".

E logo falou da greve, criticando tanto o governo quanto os grevistas: "Todo mundo espera que a situação se normalize. São justas as reivindicações dos caminhoneiros. Agora, tem que ver que a população é que fica no meio entre a incompetência e a lentidão do governo e a justiça da causa. Agora, o que não pode é descontar no povo. O povo já é maltratado, humilhado. Os dois lados têm que ter autocrítica. O governo, que poderia ter resolvido antes, desde o ano passado, e os caminhoneiros, do outro lado, que tenham agora bom senso. A população já entendeu que a causa é justa. Só dá uma dosada, que senão engrossa. Pior que tá não pode ficar."

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Recebendo Almir Sater e Renato Teixeira, ele repetiu a crítica: "A sociedade vai saber cobrar do governo, que desde o ano passado já poderia ter resolvido esse assunto. A verdade é que esse problema vem de longa data e já podia ter sido resolvida. Que os caminhoneiros tenham um pouquinho de juízo, serenidade, sensatez, o que normalmente a classe política não tem, mas a classe dos caminhoneiros tenha isso para poupar a população, que já sofreu o que não poderia."

Ao pedir para a dupla cantar "Romaria", Faustão mostrou um lado místico-religioso: "Só a fé, só uma música dessas, pode fazer com que as mentes do Brasil, as cabeças, se unam e… Só a solidariedade vai salvar o povo brasileiro. E a inteligência na hora de votar também".

O discurso mais pesado foi ouvido quando Faustão recebeu a cantora Lelezinha e o Dream Team do Passinho: "Esses aqui não tem hipocrisia. Não vem com essa palhaçada: 'Não, não é favela, é comunidade'. É favela. Tem que mudar a realidade, e não mudar o nome. Eles não são de frescura. Não é aquela coisa de classe média e classe rica, que vai puxar o saco da favela porque tem medo da favela. Mas quando, há 40 anos, Wilson das Neves fez o samba 'O Dia em que o morro descer', ninguém da sociedade, nenhum político se importou. A hora que a batata assou é que eles vão puxar o saco. Aí fica artista puxando o saco de favela. Não tem que puxar o saco. O que eles querem é condição para trabalhar, vida decente, segurança, trabalho. Como você. Ninguém quer esmola. Por isso que eles vão à luta."

A música a que Faustão se referiu é "O Dia em que o Morro Descer e Não For Carnaval", de Wilson das Neves e Paulo Cesar Pinheiro.

Entre tantos chutes na canela, claro, sobrou para a sua produção também. Num momento em que falava sem ser visto pelo público em casa, Faustão protestou: "Dá uma câmera pra mim, porra!" (veja abaixo, via Alef de Lima).

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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