Ingressos dados e oração de Edir Macedo são mistérios em “Nada a Perder”
Mauricio Stycer
02/04/2018 13h18
Uma semana antes da estreia de "Nada a Perder", no dia 23 de março, a Igreja Universal divulgou uma nota na qual previa que a imprensa "começará a despejar fake news (notícias falsas) para tentar diminuir a importância da espetacular bilheteria do lançamento do filme".
Antevia a nota: "A mídia, os produtores e promotores destas fake news tentarão, de todas as formas, espalhar que o êxito do filme foi manipulado, que os ingressos teriam sido comprados pela Universal e distribuídos aos fiéis. É mentira! A Universal não comprou, nem comprará entradas de cinema."
Por volta das 13h40 estava no cinema. Observando a chegada dos espectadores notei que, em sua maioria, eles não passaram pelas bilheterias. Dirigindo-se diretamente à sala, eles traziam um saquinho plástico. Dentro, havia um ingresso e um lencinho com uma mensagem religiosa estampada, terminando com o pedido: "Use este lencinho por sete (7) dias e entregue em uma Universal" (veja abaixo).
Apesar da maciça venda antecipada de ingressos para a sessão que assisti, as dez primeiras fileiras estavam com cerca de 30% de sua ocupação – os demais lugares estavam vazios.
No momento em que Macedo proferiu estas palavras, alguns espectadores levantaram seus lenços em direção à tela.
Ao final da oração de Macedo, "Nada a Perder" volta a exibir os personagens da ficção e mostra uma cena, passada em Nova York, na qual antecipa como começará a segunda parte do filme, com previsão de lançamento para 2019.
À primeira vista, parece que a participação do fundador da Igreja Universal não faz parte do filme. Esta impressão foi reforçada pelo fato de que esta cena com Macedo não foi exibida na sessão de pré-estreia, no dia 28, para convidados.
Na própria quinta-feira (29) pedi informações à assessoria de imprensa da igreja. Fiz duas perguntas:
1. Ao final do filme, há uma mensagem do bispo Edir Macedo. Esta mensagem não foi exibida na sessão de pré-estreia, em São Paulo. Por quê? Ela é parte integrante do filme? Vai ser exibida sempre?
2. Na sessão que eu assisti, a maior parte dos espectadores não passou pela bilheteria. Eles chegaram com um saquinho plástico que continha um ingresso e um lencinho, com uma mensagem religiosa (anexada). Na cena final, Edir Macedo aparece para fazer uma oração e lê exatamente a mensagem que está no lenço. Macedo se refere especificamente ao lenço. Foi a Iurd que forneceu este kit com ingresso e lenço para os espectadores? Por que pede-se para entregar o lenço ao final de sete dias na Iurd?
A primeira resposta de um assessor, por telefone, foi de que teria que consultar a Paris Filmes, coprodutora e distribuidora do filme. O assessor me pediu para enviar os meus questionamentos por email, o que eu fiz às 18h. Nesta segunda (02), voltei a pedir informações. Atualizarei este texto assim que tiver alguma resposta.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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