Em meio a muitos acertos, “Novo Mundo” errou ao representar a escravidão
Mauricio Stycer
25/09/2017 19h54
Com a ambição de retratar um período histórico fundamental, o dos antecedentes da independência do Brasil, "Novo Mundo" saiu-se muito bem, mesmo tomando várias licenças poéticas.
A novela promoveu bastante entretenimento, mas nunca perdeu de vista que estava retratando um período que os brasileiros conhecem dos livros escolares. E deu vários "recados" importantes para o espectador.
A história de Thereza Falcão e Alessandro Marson colocou em primeiro plano o papel da princesa Leopoldina, artífice do processo de independência, e mostrou um d. Pedro despreparado e de moral ambígua. Exibiu um Rio de Janeiro provinciano e sujo. Fez um paralelo entre a falta de comprometimento e educação da elite da época e a miséria política atual. Insistiu em falar da tragédia indígena, um tema importante, mesmo que este núcleo não tenha se integrado ao restante da novela.
Apenas ao retratar a escravidão, creio, os autores falharam. O assunto foi bastante falado, mas não mostrado de maneira satisfatória. Talvez por causa do horário, eles evitaram retratar a brutalidade da exploração dos escravos.
O Brasil, como se sabe, foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888. Este atraso tem impacto muito profundo na formação do país. "Novo Mundo", ambientada entre 1817 e 1822, não apenas fugiu do assunto como terminou apresentando uma visão idílica do problema.
Top 10: O que deu certo, o que faltou e o que não funcionou em "Novo Mundo"
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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