Sem o violento Pablo Escobar, Narcos foca no Cartel de Cali e perde impacto
Mauricio Stycer
20/08/2017 00h01
O reinado de Pablo Escobar (1949-1993), da ascensão à queda do traficante colombiano, rendeu assunto para duas temporadas, ou 20 episódios de "Narcos", entre 2015 e 16. Não foi a primeira vez que esta história ganhou as telas, mas a qualidade da produção, o didatismo do roteiro, o elenco multinacional e, em especial, o talento de Wagner Moura deram à série da Netflix uma repercussão extraordinária.
O fato de se intitular "Narcos" e não "Escobar", ou algo do gênero, já mostrava a intenção de continuar com a série depois da detenção e morte do violento e carismático traficante de Medellín. Outras pistas foram dadas ao longo da segunda temporada, em especial, a ênfase a um grupo de traficantes rival, conhecido como o cartel de Cali.
No próximo dia 1º de setembro, a Netflix lança a terceira temporada de "Narcos". O UOL assistiu aos primeiros seis episódios e pode dizer, sem dar nenhum spoiler maior, que a história do cartel de Cali é até mais interessante que a de Escobar, mas muito menos emocionante e cinematográfica.
Diferentemente do rival de Medellín, o quarteto de Cali evitava atos espetaculares de violência. O cartel investiu pesado num sistema de informação e escuta – chegou a ser comparado à KGB, o serviço secreto soviético. E montou um esquema de propina horizontal e vertical na cidade, abrangendo todos os poderes. "E depois dizem que os criminosos somos nós", diz um dos irmãos Rodriguez.
Numa liberdade da ficção, o agente Javier Peña (Pedro Pascal), da DEA, que participou da captura de Escobar, está de volta à série, agora como chefe da agência antidrogas americana, baseado em Bogotá. É ele quem vai chefiar o novo time de agentes que luta contra o cartel de Cali.
Ao se lembrar que tanto a DEA quanto o cartel de Cali enxergaram Escobar como inimigos, Peña diz: "O inimigo do meu inimigo é meu amigo, até que ele volte a ser inimigo".
A música "Tuyo", de Rodrigo Amarante, segue como trilha de abertura de "Narcos". Mas, se na primeira temporada aparecia uma imagem de Ronald Reagan e na segunda de George Bush pai, agora é Bill Clinton que faz breve aparição nos créditos iniciais.
É a dica de que a série continuará discutindo e questionando a eficácia da política antidrogas do governo americano. O conflito entre as visões da DEA e da CIA, já visto nas temporadas anteriores, reaparece também – a agência de inteligência americana enxerga o problema apenas como uma peça de uma questão geopolítica maior.
A terceira temporada, enfim, é menos surpreendente e impactante que as duas primeiras. O Escobar de Wagner Moura faz falta. Mas acredito que, por tratar de um assunto ainda tão atual como esse, e com qualidade, vai conseguir manter o interesse do espectador.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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