Frio, “Greg News” foge da pauta da semana e ri da “escola sem partido”
Mauricio Stycer
06/05/2017 00h00
Criado nos moldes do "Last Week Tonight", apresentado por John Oliver na HBO americana, "Greg News" foi anunciado como uma tribuna para o ator e humorista Gregório Duvivier comentar, na HBO brasileira, os assuntos da semana com muita verve e ironia.
Humor teve de sobra na estreia, nesta sexta-feira (05), mas a atualidade foi deixada praticamente de lado – quase metade do programa foi dedicada a rir do projeto de "escola sem partido", um assunto que é debatido há meses.
O assunto mais quente que Gregório comentou foi a greve geral ocorrida na sexta-feira da semana anterior – deitou e rolou com o vídeo do marido de Ana Hickmann reclamando dos "cornos" que aderiram ao movimento.
Com a promessa de "tentar bater em todos igualmente", o humorista se perguntou: "Golpe ou impeachment? Golpeachment". E riu da Globo e da Igreja Universal, da Odebrecht e da OAS, de Juscelino Kubitscheck e de Lula, de Dilma e de Eduardo Cunha.
"Você sabem que não existe nada imparcial. Vocês acham que a GloboNews, de um lado, é imparcial? E do outro lado, vocês acham que a… é, não pensei em nenhuma emissora de esquerda, desculpa", anunciou no número de abertura.
"Político é mais odiado que o cara que criou a tomada de três pinos. Espera aí, não. Esse cara é um político", disse, mostrando uma foto do ex-presidente Lula.
Contou a história da Odebrecht, sempre sob prisma do humor e do deboche, lembrando a ligação da empresa com políticos desde Getúlio Vargas, passando por JK, os militares e os governos civis pós-1985.
"Não se enganem. O esquema funcionou em todos os governos. A Odebrecht deu dinheiro pro PT eleger a Dilma e pro Eduardo Cunha tirar a Dilma. O objetivo era fazer o esquema sobreviver, crescer e se perpetuar, como as temporadas de Malhação", disse.
"Tucanos e petralhas tiveram as campanhas pagas da mesma forma, pela mesma empresa e deram muito lucro para ela. É como Skol e Brahma. As duas tem uma coisa em comum, além de dar dor de cabeça no dia seguinte e do milho na composição: o fato de que elas dão lucro pra mesma empresa, Ambev", prosseguiu, afiado.
"Quem mais ganhou dinheiro no esquema da Odebrecht não foi o PT nem o PSDB, mas a própria Odebrecht. E como ela será penalizada? Aí que entram as delações. Mesmo ganhando mais dinheiro que todo mundo neste esquema, a Odebrtecht deve sair muito bem nesta delação. Porque, como não podemos esquecer, a delação é premiada. E qual é o prêmio? São esses produtos Jequiti. Mentira…"
Foi, enfim, uma estreia divertida, mas pouco empolgante – quase uma aula sobre a história da corrupção e sobre o obscurantismo envolvido no projeto de "escola sem partido". Quem esperava rir do noticiário da semana deve ter se decepcionado.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.