O dia em que o “BBB” reconheceu sua derrota para o público mais “fanático”
Mauricio Stycer
07/04/2017 06h01
Tenho poupado o leitor deste blog dos meus comentários sobre o "BBB17". Quem se interessa pelo assunto tem acompanhado meus pitacos na página criada especialmente com esse fim pelo UOL. Mas queria deixar registrado aqui a íntegra de um texto lido por Tiago Leifert na última terça-feira (04), dia de eliminação.
O paredão, segundo a Globo, teve 112.889.105 votos – o recorde desta temporada. E colocou em disputa o advogado Ilmar Fonseca e o médico Marcos Harter. Ambos agrediram verbalmente mulheres nos dias que antecederam o paredão.
O texto que Leifert leu, de autoria da direção do programa, segundo ele disse, é um reconhecimento de que, não importa o que o "BBB" mostre, os torcedores mais "fanáticos" e "hipnotizados" não serão capazes de enxergar nada. É como se a Globo estivesse dizendo que não tem culpa pelas escolhas dos espectadores e que não é mais capaz de influenciá-los.
Segue a íntegra do texto:
"Espero que vocês que estão nos assistindo, vocês torcedores mais apaixonados e mais fanáticos, escutem com carinho o que nós vamos conversar lá dentro.
(diante dos candidatos)
Eu vejo que vocês escutam e até tentam decifrar os recados que o Grande Irmão manda para vocês, mas prestem muita atenção. Isso vale também para quem está nos assistindo… Eu estava até falando das torcidas mais fanáticas…
Polarização é um problema muito grave. Porque ela nunca tá certa. Ela é cega. Um lado só enxerga as qualidades, o outro lado só enxerga os defeitos. Pra um lado a pessoa é Deus, pro outro lado ela é o demônio. E não há nada que faça esses caras mudarem de opinião.
E aí você vai pro mundo de hoje com rede social e a pessoa que tem uma opinião formada se cerca de outras que tem a mesma opinião dela e o que acontece? Ela só reforça aquela crença e aí não há diálogo. Tudo que você mostra que pode questionar o que aquela pessoa acredita, ela imediatamente descarta, ela imediatamente interpreta do jeito dela, que é errado, porque ela tá completamente hipnotizada, porque ela tá fanática. E aí a coisa não anda.
Esse paredão não é sobre polarização. Não é uma luta do bem contra o mal. Ouviram bem o que eu disse? Quem vencer esse paredão não é o paladino da justiça, quem perder não é o demônio. Não é isso que está acontecendo. Pode até ser pra algumas pessoas, mas elas são fanáticas e elas estão hipnotizadas.
Não esperem, então, um triunfo da justiça, nem da injustiça. Não saiam punindo um ao outro. Não saiam tirando conclusões. Quando um torcedor abraça vocês, ele vai com vocês independentemente do que vocês façam. E essa é a verdade."
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.