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Dona dos direitos, Globo hesitou entre o drama e o show no Sambódromo

Mauricio Stycer

28/02/2017 16h10

A Globo voltou a enfrentar, na cobertura dos desfiles das escolas de samba do Rio, um velho problema que a aflige também na cobertura esportiva, particularmente em eventos cujos direitos de transmissão pertencem à emissora. Trata-se da hesitação que às vezes ocorre quando o evento se transforma em caso de polícia ou drama humano com graves implicações.

Diante de um acidente como o que ocorreu na madrugada desta terça-feira (28) com o carro alegórico da Unidos da Tijuca ou o da noite de domingo (26) com o veículo da Tuiuti, o jornalismo não tem dúvidas em relação ao que é notícia em primeiro lugar – as vidas humanas afetadas pelo acontecimento. Os dois acidentes deixaram 30 pessoas feridas, algumas gravemente. Não é pouca coisa.

Os repórteres da Globo no Sambódromo fizeram o seu papel nos dois casos e procuraram transmitir, da melhor forma possível, toda a gravidade dos acidentes. Mas, no estúdio, comandando a transmissão no Sambódromo, Alex Escobar e Fátima Bernardes lidaram mal com a batata quente.

É justo levar em consideração as muitas dificuldades envolvidas em uma cobertura ao vivo abalada por um acontecimento não previsto. Dou este desconto, mas ainda assim acho que a dupla poderia ter adotado uma postura mais assertiva.

Em vez de, simplesmente, esquecerem do desfile, e focarem exclusivamente no drama grave, ficaram tentando se equilibrar entre os dois mundos inconciliáveis – o da festa e o da tragédia – que aconteciam ao mesmo tempo por imposição da direção da Liga das Escolas de Samba.

No caso da Tijuca, até, em vários instantes, Escobar e Fátima pareciam mais preocupados em saber se a escola conseguiria atravessar a avenida a tempo, sem ser penalizada por atrasos. Ou se corria o risco de perder pontos em evolução e harmonia.

Em momento algum, por exemplo, os apresentadores sugeriram que os desfiles da Unidos da Tijuca e da Tuiuti fossem interrompidos para que se focasse no que realmente importava naqueles dois instantes. Ao menos, era o que o bom senso recomendaria, mas faltou ousadia e coragem no estúdio da Globo para alguém ventilar esta ideia.

O clichê de que "o show não pode parar" é conveniente só para quem tem interesses diretos no show.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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