Após promover o Carnaval, fui ‘expulso’ de Olinda, conta Francisco José
Mauricio Stycer
03/02/2017 04h02
Celebrando 40 anos de trabalho na Globo, o repórter Francisco José está lançando um livro no qual rememora as suas principais reportagens e faz algumas observações sobre o seu trabalho.
Baseado em Recife, Francisco José se projetou, inicialmente, como a cara do Nordeste no noticiário nacional da Globo. Fez reportagens marcantes sobre a seca e a miséria na região. Cobriu a Guerra das Malvinas, em 1982, e ficou famoso ao se tornar refém em um sequestro, em 1987.
Em sua longa trajetória, também houve espaço para reportagens mais leves ou amenas. Foi um dos primeiros a mostrar as belezas de Fernando de Noronha e, não menos importante, ajudou a promover o Carnaval de Olinda e Recife.
"A cada ano, aumentava o número de pessoas nas ruas e ladeiras de Olinda. Não havia mais espaço para os blocos passarem. Até que um morador chamou a minha atenção", escreve o repórter.
— Chico, tu não estás percebendo que está acabando com o Carnaval de Olinda! Os clubes não conseguem mais desfilar. Os músicos que seguem os blocos não podem tocar. Cada ano aumenta a multidão. Além do mais, a cidade não tem estrutura para receber tanta gente. Todo mundo fazendo xixi pelas ladeiras. Cada vez que a televisão mostra o Carnaval daqui, no ano seguinte aumenta a multidão. Vai fazer reportagem de Carnaval em outro lugar.
Após reproduzir este comentário, Francisco José escreve: "Ele tinha razão. O desabafo foi uma lição. Desde que fui 'expulso' de Olinda, passei a centralizar minha participação na cobertura do Carnaval do Recife."
"A segurança da Globo tem um lema: nenhuma reportagem vale uma vida", escreve. "Eu tenho outro lema: as reportagens com risco de vida são as mais atraentes". Para quem gosta, o repórter-herói dedica boas páginas aos seus momentos de Indiana Jones.
Francisco José afirma contabilizar mais de 2 mil reportagens em seus 40 anos de Globo. As suas maiores lições a quem está começando é ser original e querer aprender sempre. "Estou tentando aprender até hoje", diz. "Cheguei à conclusão que deveria ser apenas Chico José, sem imitar ninguém, nem mesmo os mais consagrados profissionais da TV. E manter sempre o meu sotaque". Fica a dica.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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