Entenda o que Jô disse e deixou de dizer sobre a Globo na sua despedida
Mauricio Stycer
19/12/2016 06h01
Além da despedida emocionante, o último "Programa do Jô" foi, também, uma oportunidade para Jô Soares manifestar seus sentimentos por três gerações de profissionais que tiveram papéis importantes em sua trajetória na Globo. Abaixo, um roteiro para entender o que ele disse e deixou de dizer.
O nome mais citado, por três vezes, foi o de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Ele trabalhou na Globo por mais de 30 anos, entre 1967 e 98, sendo o principal executivo da emissora na maior parte deste tempo.
Jô deixou a Globo em 1988, depois de 18 anos na emissora, porque não conseguiu emplacar o projeto de um talk show – ideia abraçada por Silvio Santos, no SBT. Boni, como se sabe, reagiu mal, proibindo a Globo de exibir comerciais protagonizados por Jô. Furioso, o executivo chegou a dizer para o humorista: "estou vendo como te proibir de usar a palavra 'gordo'".
Apesar de se dizer "amigo fraterno" de Boni e considerá-lo um "grande gênio", Jô relembrou o episódio na despedida, sugerindo que Roberto Marinho, o dono da emissora, não concordou com o seu principal executivo e ainda o teria criticado por deixar o humorista sair da Globo.
O fim da era Boni começou em 1995, quando ele perdeu a ingerência sobre a Central Globo de Jornalismo, assumida então pelo jornalista Evandro Carlos de Andrade (1931-2001). Três anos depois, em 1998, o executivo deixou a emissora, ao ser substituído por Marluce Dias da Silva na direção-geral.
Na gestão de Marluce, a Globo tirou da concorrência Ana Maria Braga, Serginho Groisman e Luciano Huck. E, não menos importante, recontratou Jô. A executiva ocupou o cargo por pouco tempo, porém, deixando a emissora em 2002 para tratamento de saúde. Foi substituída por Octavio Florisbal.
Magalhães foi diretor de pesquisa e recursos humanos da Globo por muitos anos. Era um dos nomes cotados para assumir a direção-geral na sucessão de Octavio Florisbal, que deixou a emissora em 2012. Magalhães saiu em 2013, pouco depois que o jornalista Carlos Henrique Schroder assumiu o cargo de diretor-geral.
Schroder também estava na plateia do último programa, acompanhado de Ricardo Waddington, diretor da área ao qual o "Programa do Jô" estava subordinado. Nem Schroder nem Waddington, representantes da geração que está no comando da Globo, foram mencionados por Jô no programa.
O silêncio deixou claro que Jô aceitou a decisão sobre o fim do seu talk show, mas não concordou com ela. Para deixar esta sugestão ainda mais forte, ele encerrou o programa exibindo um pequeno trecho da entrevista que fez com Roberto Marinho, exibida na estreia do "Programa do Jô" na Globo, em 2000. "Estou encantado, pela sua popularidade, pela sua credibilidade, estou satisfeitíssimo de ter você aqui", diz o empresário.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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