Em uma trama com tantos personagens fracos, autores matam o tipo diferente
Mauricio Stycer
29/11/2016 01h50
Em uma novela com 70 personagens, entre protagonistas, coadjuvantes e aqueles que têm apenas uma fala por semana, Zelito (Danilo Ferreira) estava no bloco intermediário. Não tinha uma história própria, mas exercia uma função importante – a de melhor amigo de uma das protagonistas, Isabela (Alice Wegmann).
Neste papel, Zelito passou algumas dezenas de capítulos alertando Isabela sobre os riscos envolvidos em revelar o que sabia sobre os vilões de "A Lei de Amor". Chegou a salvá-la de ser atropelada, mas não conseguiu evitar o complô que causou o desaparecimento da moça, nos capítulos da última semana.
Maria Adelaide Amaral e Vincent Vilari deram sinais de que, em algum momento, Zelito iria brilhar na novela. Afinal, não é todo dia que uma trama das 21h da Globo tem um personagem ao mesmo tempo negro e homossexual, inteligente, feliz e de bem com a vida
No capítulo de sábado (26), Zelito soube por Jessica (Marcella Rica) que o maior vilão da novela, Tião (José Mayer), está envolvido no desaparecimento de Isabela. O que fez, então, o rapaz? Num surto de raiva, ele abandonou toda a prudência que havia demonstrado até agora, invadiu o escritório do empresário e deu um soco na sua barriga. Gênio.
O jornalista Daniel Castro, do site Noticias da TV, garantiu que a morte estava prevista e não tem nenhuma relação com outras mudanças exigidas pela Globo na novela. A colunista Carla Bittencourt, do jornal "Extra", informou que leu uma sinopse de "A Lei do Amor" em agosto e neste texto a morte do personagem estava prevista para ocorrer da forma como foi exibida nesta segunda-feira. Acredito nos dois colunistas.
Só fiquei com a impressão de que, pela necessidade de movimentar mais a novela, todos os episódios que levaram à morte de Zelito foram apressados e os autores fizeram o personagem agir de uma forma pouco coerente com o perfil que vinha mostrando. E acho um desperdício, numa novela com tantos personagens fracos e parecidos uns com os outros, a saída de cena de um tipo diferente, incomum.
O capítulo desta segunda-feira se encerrou com a imagem congelada de Zelito, flutuando entre as fitas vermelhas usadas em vinhetas da novela. Uma conclusão de impacto, ao menos.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.