Por que o prêmio de televisão da APCA está perdendo credibilidade
Mauricio Stycer
25/11/2016 06h01
É um prêmio que, por conta do nome e da tradição (existe desde 1972), os candidatos adoram receber. No caso específico da televisão, porém, se tornou altamente problemático.
Em primeiro lugar, por conta da falta de críticos de televisão no país. Poucos são os veículos em São Paulo que mantém críticos especializados. Em segundo lugar, pelo fato de a APCA não ter critérios minimamente rígidos para aceitar os seus integrantes (que pagam uma anuidade para participar da associação).
O júri de televisão deste ano conta com dez integrantes.
Flavio Ricco é um dos principais colunistas de TV e um dos jornalistas mais respeitados no meio.
Nilson Xavier é um pesquisador reconhecido por seus pares e um crítico admirado.
Cristina Padiglione é uma das jornalistas de TV mais experientes e competentes em atividade.
José Armando Vanucci é, igualmente, um profissional especializado em TV com muita credibilidade.
Um prêmio dado por estes quatro merece todo o respeito, tanto de quem vier a receber quanto de quem acompanha o mercado de televisão. O problema é que eles não estão sozinhos. Vários deles não poderiam participar de uma votação deste tipo.
O caso mais escandaloso é o de Leão Lobo, há anos integrante do júri. O colunista, especializado em notícias sobre celebridades, trabalha em televisão há muito tempo. Em 2015, enquanto dividia-se entre um programa na Gazeta e outro no SBT, o júri da APCA deu um prêmio especial a um programa da primeira. Atualmente, dedica-se apenas ao SBT, no programa "Fofocando". É um conflito de interesses gritante, que desmoraliza a premiação.
Outro problema é a falta de representatividade de alguns integrantes. O caso mais claro é o de um blogueiro (Fábio Maksymczuk), cujo site (Fábio TV) basicamente reproduz textos de assessoria de imprensa ou de outros blogs.
Um terceiro problema é a participação no júri de colegas que, seja por suas funções, seja pela natureza das empresas em que trabalham, podem estar sujeitos a conflitos de interesse. É o caso de Paulo Gustavo Pereira, conhecido jornalista especializado em séries, cujo trabalho é veiculado por empresas não-jornalísticas. Ou de Neuber Fischer, criador de um site, Observatório da Televisão, onde é também responsável pelos departamentos comercial e administrativo.
Por fim, já há algum tempo o júri da APCA mantém um posto fixo para um representante do "Meio & Mensagem", uma publicação voltada exclusivamente ao mercado publicitário. Independentemente da competência da repórter Bárbara Sacchitiello, e de sua antecessora, a ótima Edianez Parente, não faz sentido que um prêmio dedicado a julgar a qualidade do conteúdo da televisão conte com profissionais com este perfil.
Acho que já passou da hora de a APCA, em busca da credibilidade, tornar mais rígidos os critérios de seleção dos seus associados na categoria televisão. Sob o risco, se não fizer isso, de desmoralizar totalmente uma premiação ainda querida.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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