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O vilão, a chatinha, o politico bufão e outros problemas de “A Lei do Amor"

Mauricio Stycer

21/11/2016 05h01


Exibidos 42 capítulos, "A Lei do Amor" entra em sua oitava semana ainda sem ter conquistado um grande publico. Com média em torno de 25,5 pontos em São Paulo, a novela das 21h da Globo sofre por conta de algumas de suas qualidades, como escrevi aqui, mas também por conta de vários problemas.

Autores da trama, Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari estão tendo dificuldades em delinear o principal vilão da história, Tião Bezerra. Sofrem, também, com a caracterização de Letícia, a chatinha. Parecem indecisos quanto ao rumo político do enredo e se repetiram demais em alguns personagens. Abaixo, eu detalho minha opinião sobre estes problemas:

Vilão confuso: No site da novela, Tião Bezerra é descrito assim: "Inteligente, sagaz, arguto, reservado, mais age do que fala". Ou seja, totalmente diferente do personagem que estamos acompanhando em cena – um tipo verborrágico, nada reservado e pouco sagaz.

O site da Gobo diz ainda: "Possui grande talento para os negócios, tem o toque de Midas. Tudo que toca vira ouro." Para o espectador, este talento é um mistério. Tião é dono de uma holding, mas desde que a novela começou o empresário não mostra o menor tino para os negócios.

De forma obcecada, está preocupado exclusivamente em se aproximar de Magnólia (Vera Holtz), para se vingar de uma maldade no passado, forçar o casamento da filha Letícia (Isabella Santoni) com Tiago (Humberto Carrão) e infernizar a vida da mulher, Helô (Claudia Abreu).

Outro problema é a interpretação de José Mayer. No seu primeiro papel de vilão, o ator ainda luta para encontrar o tom certo. Ora deixa escapar um sorriso irônico, que não combina com as cenas sérias, ora confunde frieza com inexpressividade em situações dramáticas. É um caso raro de vilão sem carisma – nem é odiado nem diverte o público.


A chatinha: Personagem importante na trama, a jovem Letícia tem a função de irritar o espectador. Imatura, é manipulada pelo padrasto, Tião, e se volta contra a mãe, Helô, e a partir de agora contra o pai, Pedro (Reynaldo Gianecchini). Faz tudo errado, o tempo todo – um exagero, claro, dos autores.

Como em uma novela mexicana, Isabella Santoni se entrega ao papel sem sutileza alguma, sem deixar margem para dúvidas na cabeça do espectador. E isso é tão chato quanto a chatice da personagem. Letícia se tornou uma personagem previsível, vivida por uma atriz que parece ter um ponto eletrônico no ouvido repetindo para ela: "seja chata, seja irritante".


O político bufão: Reza a lenda que "A Lei do Amor" foi adiada para não coincidir com o período eleitoral, já que a sua trama teria forte conteúdo político. Neste aspecto, o que a novela está mostrando até agora é uma enorme decepção. Há uma história de corrupção e política na novela, mas está sendo tratada de forma caricata e superficial.

O senador Venturi acaba de ser cassado, como se isso fosse a coisa mais simples do mundo, sem que os autores tenham oferecido qualquer pano de fundo. Talvez por não ter elementos suficientes para caracterizar o personagem, Otavio Augusto está construindo um senador bufão, de comédia, esvaziando o sentido da trama. Um desperdício.

Filhos x pais: A patricinha Camila (Bruna Hamú) tem vergonha da madrasta, Luciane (Grazi Massafera), e vai se arriscar como garota de programa. Jéssica (Marcella Rica) tem vergonha da mãe, Salete (Claudia Raia), e vai ganhar a vida como garota de programa. Aline (Arianne Botelho) tem desprezo pela origem humilde dos pais, Yara (Emanuelle Araújo) e Misael (Tuca Andrada), e se torna a vilã júnior da novela. Não são situações e personagens muito parecidas?

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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