Seis razões que explicam o insucesso da versão brasileira do “X Factor”
Mauricio Stycer
16/11/2016 05h01
Com médias de audiência próximas da reprise do "Pânico", o show de talentos "X Factor Brasil" está completando 12 semanas no ar sem dizer a que veio. O programa registra, até o momento, média de apenas 2,5 pontos em São Paulo (cada ponto equivale a 69 mil residências). Na última semana, marcou os seus piores números – 2,1 pontos na segunda-feira (7) e 1,7 na quarta (9).
O que explica o fracasso de um formato consagrado, que conquistou sucesso em quase todos os países pelo qual passou? Tenho algumas hipóteses que vou elencar abaixo. O texto também reflete a opinião de cerca de 150 espectadores que se manifestaram sobre o assunto, a partir de um convite meu, no Twitter.
Como apontei já na estreia, a escolha dos quatro jurados não funcionou. O produtor Rick Bonadio e os músicos Paulo Miklos, Alinne Rosa e Di Ferrero não formaram um time atraente. Quase não houve conflitos entre eles – e, quando houve, pareceu forçado. O vocalista do NX Zero foi um dos jurados mais confusos da história de programas musicais. A cantora baiana (ex-vocalista da banda Cheiro de Amor) foi quase inexpressiva. O ex-Titã não encontrou o tom certo. E o produtor, hoje uma espécie de jurado profissional, repetiu os chavões que já havia usado em outros programas do gênero ("Popstars", "Olha a Minha Banda" no "Caldeirão do Huck", "Ídolos", "Fábrica de Estrelas").
Candidatos: Na visão de quem assiste ou tentou assistir ao programa, o baixo nível da maior parte dos candidatos foi a principal razão do insucesso do "X Factor". Embora não procure apenas boas vozes, mas cantores com algo a mais (o tal fator X), o concurso de fato surpreendeu pouco. Raros foram os candidatos carismáticos, magnéticos, que mobilizaram o público. Nesta segunda (14), já na disputa entre os seis melhores, Alinne Rosa não conseguiu evitar a decepção com a banda Ravena, que cantou um clássico dos Tribalistas: "Parece que vocês foram ali cantar no karaokê".
Produção e seleção: A primeira triagem de candidatos para a versão brasileira foi um desastre de proporções épicas, como relatado na época. Isso deixou o programa com uma imagem negativa. E, pelo visto, os participantes que sobreviveram a esta primeira seleção deixaram muito a desejar.
Concorrência: O "X Factor Brasil" entrou no ar um pouco antes do "The Voice Brasil", na Globo. Embora sejam formatos distintos, indo ao ar em dias diferentes, pode haver uma certa saturação diante de tantos concursos musicais, com desvantagem para o da Band.
Dia de exibição: Era necessário exibir o programa duas vezes por semana? A edição de quarta-feira precisava ser tão longa?
Timing errado: Formato britânico, o "X Factor" surgiu em 2004 na Inglaterra. Desde então, rodou o mundo. Nos EUA, estreou em 2011. Suspeito que o programa tenha demorado demais a estrear no Brasil, depois de vários outros formatos semelhantes.
A primeira edição do "X Factor Brasil" termina no próximo dia 23. Segundo o colunista Flavio Ricco, a Band vai anunciar na ocasião que realizará uma segunda temporada. Há muito o que aprender com esta primeira experiência.
Agradeço muito aos mais de 150 seguidores no Twitter que debateram o assunto deste texto comigo na noite de segunda-feira (14). Não dá para citar todos e seria injusto mencionar alguém em particular.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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