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Qual é o problema de um garoto de 18 anos apresentar um telejornal? Nenhum

Mauricio Stycer

13/10/2016 10h25


Um garoto de 18 anos, com aparelho nos dentes, apresenta desde a última quarta-feira (12) um telejornal no SBT. Por orientação de Silvio Santos, Dudu Camargo substituiu duas apresentadoras conhecidas, as jornalistas Karyn Bravo e Joyce Ribeiro.

Como tudo que ocorre nesta emissora, não houve explicações para o público nem justificativas internas para a mudança no "Primeiro Impacto", que vai ao ar entre 6h e 8h da manhã. O dono decidiu, tá decidido. Até segunda ordem, é claro.

Duda Camargo parece bem feliz na função. Lê as notícias, qualquer uma, com empolgação. Poderia estar num auditório ou, até mesmo, num rodeio. "É isso aí!", observa ao final da leitura de cada nova informação. Gagueja um pouco, mas segue em frente, determinado, falando de violência policial, futebol, Anitta e Trump.

É estranho ver um garoto tão jovem no comando de um telejornal? É. Mas quais são os atributos necessários para ler notícias escritas por outras pessoas? É preciso ter boa voz, dicção e compreender o que está lendo – Camargo preenche todos estes requisitos, tanto quanto Cid Moreira, no passado, ou Sandra Annenberg, hoje em dia, para citar apenas dois exemplos de leitores de notícias.

Alguém dirá que é preciso ter credibilidade. Discordo. Para ler notícias essa não é uma qualidade exigida. Credibilidade é necessário para quem opina, analisa, explica o noticiário.

A decisão de Silvio Santos choca exatamente por isso. O dono do SBT está sugerindo, sem disfarces, que qualquer pessoa pode apresentar um telejornal em que as notícias são escritas na redação para alguém ler no ar. Está dizendo também, como já fez em muitas outras ocasiões, que jornalistas não têm muita importância na sua emissora.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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