Cético com filme sobre “Alquimista”, Paulo Coelho tem projeto com a Netflix
Mauricio Stycer
03/10/2016 09h01
Faltam apenas três semanas para Paulo Coelho festejar uma conquista que nenhum outro autor jamais alcançou: "O Alquimista" vai completar oito anos (ou 416 semanas) na lista de mais vendidos do principal jornal americano, "The New York Times".
A façanha de seu livro mais bem-sucedido ocorre ao mesmo tempo em que chega de Hollywood a notícia de um novo acordo para a transformação de "O Alquimista" em filme. Esta é uma novela que se arrasta desde 1993, ou seja, há 23 anos.
Em entrevista ao UOL, Paulo diz não acreditar mais que o livro chegará às telas. "Não vejo o livro como filme", afirma. "Uma coisa tenho certeza: se tivessem feito um filme, o livro não estaria todo esse tempo no 'New York Times'."
Ao mesmo tempo, o autor conta que outros livros seus estão no caminho das telas – e não apenas dos cinemas. Sem citar os títulos, ele revela que está negociando projetos de adaptação com o Netflix e a Sony. Veja abaixo a entrevista:
"O Alquimista" está perto de completar oito anos, ou 416 semanas, na lista de mais vendidos do "New York Times". O que isso representa para você?
Paulo Coelho: Um recorde que jamais será batido, uma alegria de ver que em um mercado tão fechado eu consegui meu espaço. Já tive vários livros ali, mas não por esse período de tempo.
Você sabe se algum outro livro já ficou tanto tempo nesta lista de best-sellers?
O livro que até então tinha ficado mais tempo no "New York Times" foi "Meu Filho, Meu Tesouro", do Benjamin Spock, na década de 50, um total de 259 semanas.
Você tem alguma explicação para este fenômeno de vendas? Quantas vezes esta pergunta já foi feita a você? (risos)
Acho que a história do "Alquimista" é a história de todos nós. Descontadas as diferenças culturais, somos muito parecidos em nossas emoções.
Segundo a Wikipédia, "O Alquimista" é o terceiro livro mais vendido na história, com cerca de 150 milhões de exemplares, atrás apenas de "Um Conto de Duas Cidades", de Charles Dickens (200 milhões) e "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes (500 milhões). Você dispõe de dados a respeito?
Os editores fornecem os dados para a Nielsen, uma lista paga à qual eu não tenho acesso. A Wikipedia tem.
Porque eu não quis. Um ano depois de vender os direitos já estava arrependido. Tentei comprá-los de volta, mas não quiseram vender. Não vejo o livro como filme. Outros talvez, mas esse não. E como não quiseram me vender (cheguei a oferecer US$ 3 milhões), passei a dizer que não gostava dos roteiros. E evitar qualquer envolvimento direto. Eles temem que eu diga que o filme é uma droga e termine alienando 450 milhões de espectadores (1 livro = 3 leitores). Assim vou empurrando. Uma coisa tenho certeza: se tivessem feito um filme, o livro não estaria todo esse tempo no "NY Times".
Nenhum filme baseado em "O Alquimista" pode ser feito sem que você aprove o roteiro? Isso vale para outros acordos de vendas de direitos de livros seus?
Não. Eu não preciso aprovar o roteiro. Eu posso dizer simplesmente que detestei, e eles vão ficar com medo de levar adiante pelas razões já explicadas.
Nesta semana, li que foi feito um novo acordo para a realização do filme. Desta vez vai?
Só se o roteiro tiver a qualidade do único que gostei, do Claude Lelouch. Mas como eles odiaram, acho difícil.
Para o cinema brasileiro sou caro (já tive uma dezena de propostas, no mínimo). E Hollywood adora Paulo Coelho, sobretudo agora, com as séries. "A Espiã" (com lançamento previsto para novembro) teve 36 pedidos de opção, uma surpresa também para mim. Mas é um filme de época, caríssimo, e nossas condições foram bem rígidas – não nos direitos, mas na execução. Faz dois meses que assinei "Onze Minutos" com a maior produtora alemã , mas – de novo – depende da equipe.
E para a televisão? Nunca quiseram fazer uma série baseada em "O Alquimista"? Nem com outros livros seus?
Sim. No momento há dois projetos avançando, com a Netflix a Sony (não com "O Alquimista"). Estamos falando dos EUA.
Você pode me dizer quais são os livros que estão sendo negociados com Netflix e Sony?
Prefiro aguardar um pouco. Mas a ideia é de um peregrino (que seria eu) no caminho de Santiago e cada episodio é um livro meu (exemplo: encontro um pastor, ou uma feiticeira, etc.)
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.