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“Êta Mundo Bom” promoveu esperança em tempos de crise e desencanto

Mauricio Stycer

26/08/2016 07h00


Nos últimos meses, Walcyr Carrasco foi questionado inúmeras vezes sobre as razões do extraordinário sucesso de "Êta Mundo Bom". Muitas vezes disse que não sabia a resposta. Em outras ocasiões, buscou explicação nos valores que a história promoveu – o otimismo, a esperança, a bondade.

A enorme aceitação da novela passa por aí mesmo – pela mensagem positiva e pela simplicidade espantosa que exibiu do início ao fim. Mas muitos outros folhetins foram por este caminho sem o mesmo êxito.

Por isso, acho que há algo a mais. Acredito que "Êta Mundo Bom" deve muito ao momento em que foi exibida – um período de crise política e econômica e, de certa forma, de muito desencanto.

Ambientar a trama na década de 40 do século 20 foi só um pretexto para Carrasco aprofundar o caráter ingênuo de muitos personagens. O momento crucial que o Brasil e o mundo passavam na época foi completamente ignorado.

A única referência temporal da novela foram os títulos dos filmes de Hollywood que apareciam dos letreiros do cinema e a procura por petróleo no interior de São Paulo

Sem preocupação com o realismo, o autor desenvolveu tipos transparentes e cristalinos, como só existem nas histórias infantis. O excesso de bondade e simplicidade de boa parte dos personagens tornou a novela atraente para quem buscava receber mensagens edificantes e reconfortantes da TV.

O caipira de coração puro, que veio para a cidade grande em busca da mãe. A milionária bondosa, que passou a vida procurando o filho tirado dela ainda bebê. A jovem simples e boa, que foi expulsa de casa pelo pai por estar grávida. O pai que cometeu um crime para financiar a cirurgia que permitiria ao seu filho andar. O noivo dedicado à noiva gravemente doente. A menina pura do interior que passava os dias fantasiando sobre o "cegonho" masculino.

Esses e outros tipos elementares fizeram "Êta Mundo Bom" andar alegremente por 191 capítulos. Com habilidade, Carrasco conseguiu desenvolver estas e outras tramas sem muita enrolação, sempre propondo desdobramentos e dando agilidade à novela.

Abrindo mão de qualquer ousadia ou polêmica, a novela das 18h30 encontrou um grande público, num sinal de que há uma parcela considerável da audiência ansiosa exatamente por isso: entretenimento sem esforço. E a garantia de que o bem vencerá o mal, o amor superará as barreiras, o esforço será recompensado e há motivos para ser otimista com o mundo. Escapismo, em resumo.


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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