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Sem sexo e violência, “Liberdade, Liberdade” seria uma novela das 18h

Mauricio Stycer

05/08/2016 00h41


Como já havia ocorrido com "Verdades Secretas", parte do sucesso de "Liberdade, Liberdade" se deveu à exibição de algumas cenas de impacto, tanto em matéria de violência quanto de sexo.

No caso da mais recente novela das 23h, além de apresentar com crueza, sem filtros, a brutalidade de alguns personagens, houve ainda o feito, inédito, de mostrar uma cena de amor entre dois homens.

São situações que o horário mais tardio permite, do ponto de vista da classificação indicativa, e o público aceita melhor. Creio que é a isto que Mario Teixeira, autor da trama, se refere quando diz que o espectador é "inteligente". Em entrevista a Paulo Pacheco, no UOL, ele disse:

"O mais importante é ressaltar que o público é muito inteligente e, com boas histórias e personagens humanos e verdadeiros, podemos explorar qualquer assunto. A novela desde o início se dispôs a contar temas de intolerâncias e preconceitos da época, os diferentes tipos de pessoas e questões de cada um, seja de gênero, raça ou econômica."

Teixeira faz uma confusão aí. O público não é inteligente porque dá boa audiência a uma novela que mostra cenas de sexo entre dois homens e violência. Ambos os aspectos são iscas e atraem espectadores justamente porque a TV aberta não pode exibi-los em qualquer horário.

Se considerasse o espectador inteligente, de fato, Teixeira teria escrito uma novela muito mais interessante e ousada. Ao contrário, "Liberdade, Liberdade" evitou qualquer risco. Foi uma trama sem maiores ambições, desenvolvida de forma simples e fácil, deixando pouco espaço para o público pensar ou imaginar.

A cena final, com Xavier (Bruno Ferrari) e Joaquina (Andreia Horta) no navio, rumo a Portugal, mostra bem como, tirando as cenas de sexo e violência, o texto de "Liberdade, Liberdade" parece de novela das 18h.

"Nós vamos para Lisboa encontrar os nossos aliados e planejar o futuro" diz ele. "Xavier, seremos felizes?", pergunta ela. "Já somos", responde ele. "Só se é feliz quando se é livre", completa ela.

Mais bobinho, impossível.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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