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"A Terra Prometida" tem boa trama, mas muita enrolação e pregação religiosa

Mauricio Stycer

01/08/2016 06h01


Depois de um primeiro capítulo arrasador, "A Terra Prometida" chegou ao 20º episódio em marcha lenta, apresentando os mesmos problemas observados na "continuação" de "Os Dez Mandamentos".

Baseada no "Livro de Josué", que relata a invasão e conquista de Canaã pelos hebreus, a novela da Record enfrenta o desafio de transformar alguns poucos episódios bíblicos em longos capítulos de 50 minutos.

Para além do enredo principal, que é a batalha militar, Renato Modesto e sua equipe se viram obrigados a desenvolver inúmeras situações paralelas. São historinhas de amor, inveja, ciúme, além de intrigas familiares e fofocas entre vizinhos.

Destinadas a preencher o tempo, ocupar parte do elenco feminino e, eventualmente, fisgar o espectador fã de melodrama, essa parte da novela tem se arrastado de forma tediosa.

Exemplar da dificuldade de tornar atraentes histórias sem importância é a trama que envolve Samara (Paloma Bernardi), sua mãe Leia (Beth Goulart) e Aruna (Thais Melchior), irmã de criação. Todas as cenas de Samara, há quatro semanas, dizem respeito a artimanhas para prejudicar Aruna e seduzir Josué (Sidney Sampaio).

"A Terra Prometida" começou mostrando o cerco a Jericó. Foi um primeiro capítulo forte, de muita ação, em que a novela sugeriu que iria oferecer uma opção, ainda que pálida, aos fãs da série "Game Of Thrones".

Fomos, então, apresentados aos inimigos dos hebreus, o rei Marek (Igor Rickli) e a "senhora das serpentes" de Jericó, a rainha Kalesi (Juliana Silveira), bem como à prostituta bondosa Raabe (Miriam Freeland) e ao guerreiro Acã (Kadu Moliterno), que trai Josué, entre outros bons personagens.

A partir do segundo capítulo a história regrediu aos meses anteriores, de maneira a explicar como os dois lados se prepararam para esta batalha, e a novela começou a perder ritmo. Na última semana, a única história interessante envolveu a aventura dos dois espiões hebreus enviados a Jericó. O resto foi enrolação.

Do ponto de vista religioso, a trama também insiste – e cansa – com uma mesma pregação em torno do tema da fé e da obediência a Deus. Quem não tem fé ou desobedece à orientação divina, não merece a "Terra Prometida". Os inimigos, que acreditam em outros deuses, podem ser massacrados. "Deus está no comando", repetem Josué e seus aliados em todo capítulo.

A audiência da nova novela está muito semelhante à da continuação de "Os Dez Mandamentos". Depois de uma primeira semana com média de 16 pontos, "A Terra Prometida" perdeu um pouco de público e tem mantido uma boa média semanal em torno de 15 pontos.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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