Com medo do vento, Galvão põe emoção até em revezamento da tocha olímpica
Mauricio Stycer
03/05/2016 16h53
Em mais de uma ocasião, explicando o seu ofício, Galvão Bueno se definiu como "um vendedor de emoções". O narrador tem consciência que não pode mentir, mas deve, sempre que necessário, omitir defeitos ou exagerar qualidades do "produto" que está vendendo – o esporte.
Nesta terça-feira (03), Galvão foi colocado à prova diante de um evento duro de narrar – o revezamento da tocha olímpica, que chegou a Brasília. Acredite se quiser, o narrador conseguiu extrair emoção até do momento mais simbólico – o acendimento.
Vendo a momentânea dificuldade das autoridades, Galvão mandou: "Há um certo problema com o vento". Não deu tempo nem de rir – a tocha foi acesa segundos depois.
Sem ter muito o que dizer, o narrador passou a descrever tudo que estava vendo. "A esquadrilha da fumaça ali no céu fazendo as suas manobras", observou. "Neste momento houve a primeira passagem de tocha", disse a seguir. Ao seu lado, a ex-jogador Hortência ajudou: "Nós vamos nos emocionar muito".
Galvão tirou leite de pedra, como se diz, narrando o que todos os espectadores estavam vendo. "Gente a favor do impeachment, gente contra o impeachment. E os guardiões da tocha ali tomando conta". Sem ter mais o que falar, concluiu: "É uma festa brasileira."
Fabiana, primeira atleta a carregar a tocha, também não ajudou muito, ao ser entrevistada: "Eu até agora estou sem palavras para falar desse momento".
Como diria Galvão: "Haja coração!"
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Este texto foi publicado originalmente no UOL Esporte.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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