Por falta de história, “Os Dez Mandamentos” está virando “Malhação bíblica”
Mauricio Stycer
02/05/2016 13h10
O que vem a seguir é o longo êxodo no deserto, que durou 40 anos segundo a descrição dos livros da tradição judaica. Neste sentido, chamar esta história de "Os Dez Mandamentos" é uma liberdade poética, inspirada pelo marketing, ou seja, pela vontade de prolongar o sucesso da novela de 2015. Faria bem mais sentido intitular estes novos 60 capítulos como "O Êxodo" ou algo parecido.
Mas este é um problema menor diante do malabarismo que Vivian de Oliveira está sendo obrigada a fazer para manter de pé uma "novela bíblica" com fiapos de referências no Pentateuco.
A Bíblia conta, ainda, que neste período Moisés determinou a construção do Tabernáculo, onde seriam guardados os livros sagrados. Outra história é a do confronto com os moabitas, causado pelo temor do rei Balaque (abaixo) diante dos hebreus.
Como escrever 60 capítulos com base nestas poucas linhas de narrativas bíblicas? Restou a Vivian de Oliveira inventar e desenvolver, bem mais do que na novela de 2015, as historinhas de amor. Em alguns capítulos, 90% dos diálogos se limitam a falar de namoros, rejeições, dúvidas sobre intenções amorosas, adultério, beijos e paquera.
Como muita gente observou, esta nova fase de "Os Dez Mandamentos" poderia ser chamada de "Malhação Bíblica". Há quem goste. Os números de audiência, até o momento, não são excepcionais, mas merecem todo o respeito.
Audiência
Como já escrevi, levo em consideração, como é a intenção da Record, que esta é uma continuação da novela exibida no ano passado, não um novo folhetim.
Em novembro de 2015, nas últimas duas semanas, "Os Dez Mandamentos" registrou médias de 24 e 20 pontos respectivamente. Agora em abril, a novela recomeçou com média de 16,1 pontos na primeira semana, caiu para 14,5 na segunda, depois para 13,5 na terceira e voltou a subir, para 14,7 na última semana do mês.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.