Empolgados, repórteres da Globo em SP parecem passistas de escola de samba
Mauricio Stycer
07/02/2016 02h15
Faltando dez minutos para o fim do desfile da Império da Casa Verde, o repórter Phelipe Siani foi acionado para entrar ao vivo do seu posto – junto ao cronômetro oficial do Sambódromo de São Paulo. Com um copo de plástico na mão, ele explicou que a escola estava dentro do tempo previsto.
Rindo, Siani (abaixo) encerrou o seu comentário dizendo: "Vou continuar tomando meu chazinho, torcendo pra tudo dar certo." Do estúdio Globeleza, Monalisa Perrone emendou: "Tenho certeza que não tem chazinho naquele copo". Alguns minutos depois, o repórter jogou o copo para o alto e sambou com os passistas na dispersão da escola.
Esta descontração, é verdade, não constitui uma novidade. O Carnaval sempre foi um local de "respiro" para o jornalismo da Globo se "soltar" um pouco.
O que chama a atenção este ano é que a alegria de alguns repórteres da emissora está um tom acima, levando o público a notar que há algo de não natural em tanta empolgação. E não estou falando de Marcio Canuto, cujo exagero está de tal forma introjetado que não causa mais nenhum efeito.
A informalidade virou regra no jornalismo da Globo em 2015 – os passeios do apresentador William Bonner pelo estúdio do "Jornal Nacional" e as suas conversas com a moça do tempo, Maria Julia Coutinho, a Maju, sinalizaram que não havia mais freios.
Chamar os colegas por apelidos ou diminutivos virou rotina. O apresentador do "SPTV" Carlos Tramontina é o "Tramonta". Monalisa Perrone é a "Mona", e assim por diante.
A repórter Michelle Barros (no alto), eventual substituta de Tramontina na bancada do telejornal, passou o Carnaval saltitante, fazendo entrevistas abraçada aos entrevistados e sorrindo mais que folião estreando na avenida. Veruska Donato não ficou atrás, transmitindo enorme alegria em suas reportagens no Sambódromo.
Dados prévios do Ibope indicam que a emissora foi recompensada pela empolgação de seus jornalistas. A audiência de sexta-feira, 11 pontos, foi 16% superior à de 2015. Já a de sábado, com 10 pontos, foi igual à do ano passado.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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