Top 20: os erros, exageros, micos e polêmicas na televisão em 2015
Mauricio Stycer
16/12/2015 07h01
A primeira retrospectiva de 2015 do blog agrupa duas dezenas de acontecimentos variados na televisão. Juntei na mesma lista erros crassos, situações exageradas, micos extraordinários e polêmicas ocorridas na tela este ano. Como toda relação deste tipo, esta minha é bem pessoal e aberta a sugestões, criticas e comentários dos leitores.
Extintor de incêndio bíblico: Além das dez pragas enviadas por Deus ao Egito, a novela "Os Dez Mandamentos", da Record, foi vítima de uma outra praga muito comum em estúdios de televisão – a distração: um extintor de incêndio foi esquecido em cena. Foi o erro mais comentado no ano. Mas não foi o único, é sempre bom lembrar.
Museu da Televisão: Com "I Love Lucy", série da década de 50 do século passado, a emissora de Silvio Santos acrescentou mais um achado arqueológico à sua programação com cheiro de naftalina. A ideia "genial" de exibir o seriado de segunda a sexta durou apenas um mês. Constatado o erro, o SBT encostou o programa às 4h da manhã dos sábados.
Reportagem refeita: Indicado para representar o Brasil no Oscar, o filme "Que Horas Ela Volta?" foi objeto de uma reportagem tão equivocada no "Fantástico" que, uma semana depois, o programa voltou a tratar do assunto, no esforço de corrigir a primeira abordagem. "A reportagem é um curioso caso em que se fez o marketing de um filme afirmando o contrário do que ele defende", escreveu o crítico Ricardo Calil. O filme de Anna Muylaert mostra a difícil relação de uma empregada doméstica com seus patrões.
Cristiano Araujo Forever: A morte do cantor sertanejo, em um trágico acidente de carro, foi a senha para uma das coberturas mais longas e insanas já realizadas pela televisão brasileira. Da Globo à Gazeta, passando por Record, RedeTV! e SBT, Cristiano Araujo foi tema de dezenas de programas e centenas de horas de homenagens. "A Tarde É Sua", apresentado por Sonia Abrão, bateu todos os recordes ao tratar do assunto, de segunda a sexta, por mais de dois meses – o Ibope da atração deu um salto.
Overdose de culinária: "Master Chef" (Band), "Batalha dos Confeiteiros" (Record), duas temporadas de "Hell´s Kitchen" (SBT, "Super Chef" (Globo), "Bake Off Brasil" (SBT), "Master Chef Kids" (Band)… Descobertos em 2014 como chamariz de audiência e publicidade, os programas de competição culinária tomaram a televisão em 2015. O exagero vai continuar no ano que vem – vem aí o "BBQ Brasil", primeira competição de churrasqueiros na TV aberta.
O apocalipse zumbi: João Kleber continua fazendo suspense antes de revelar segredos "graves", "gravíssimos", "chocantes" ou "inacreditáveis" toda tarde, na RedeTV!. O problema é que o conteúdo do programa que apresenta nunca esteve tão escrachado. Este ano uma mulher revelou que foi sequestrada por um extraterrestre, dopada e possivelmente engravidado dele. Um homem confessou ao amigo ser um alienígena. E um rapaz previu a chegada do apocalipse zumbi. O apresentador reivindicou o Troféu Imprensa. Acho justo.
"Chato igual ao Faustão": Mal começou o seu programa numa quarta-feira, Ratinho chamou o quadro "Como você está?" e apareceu a vinheta de outro quadro, o "Gente de fibra". Irritado, ele interrompeu a exibição e reclamou, ao lado da repórter Magdalena Bonfiglioli: "Para o VT. Eu vou matar o Alex. De verdade. Tem horas que dá vontade de arrancar a cabeça de uma meia dúzia aqui dentro. É verdade. Eu tô ficando chato. Igual ao Faustão." Exagero ou sinceridade?
Jurada cômica: Com novos jurados, a segunda temporada do "Superstar" foi tão decepcionante quanto a primeira. Estreando na função, a cantora Sandy acabou divertindo o público por causa da sua falta de jeito para a tarefa. Entre outras pérolas e micos, chegou a aprovar uma banda mesmo sem conseguir compreender o que eles cantavam: "Eu não votei pela letra porque não entendi quase nada, mas gostei do estilo".
Figurantes fingem dramas na TV: Como outros figurantes, Maria Andréia se apresentou duas vezes no programa "Casos de Família", do SBT, cada vez com um nome, contando histórias absolutamente diferentes – e convincentes."Criei uma história com um amigo e resolvemos participar do 'Casos de Família'. Ninguém foi à minha casa checar. As histórias são reais, mas no meu caso, a gente inventou. E criamos tão bem que o psicólogo não desconfiou". Em vez de explicar o mico, a apresentadora Christina Rocha reclamou de "perseguição" ao programa dela.
Tim Maia "editado": Exibido pela Globo em duas partes, nos primeiros dois dias do ano, "Tim Maia – Vale o que vier" provocou enorme polêmica. A série eliminou uma cena, presente no filme que deu origem à série, na qual Roberto Carlos humilhava o amigo. Por quê? A Globo não explicou o mico. "Aos seguidores que não viram 'Tim Maia' no cinema sugiro que não assistam essa versão que vai ao ar hoje e amanhã na Globo. Trata-se de um subproduto que não escrevi daquele modo, nem dirigi ou editei", avisou o cineasta Mauro Lima.
Spoiler do MasterChef: Dois meses antes do fim, um jornalista do "Agora São Paulo" divulgou os nomes dos dois finalistas da competição de culinária da Band. O estraga prazeres jogou um balde de água fria em fãs que acompanhavam o programa em suspense e mostrou como é ruim gravar realities deste tipo com muita antecedência em relação à data de exibição. Como anunciado pelo spoiler, a final ocorreu entre os candidatos Raul e Isabel.
Economia no figurino: O vestido é bonito e, pelo visto, todo mundo no jornalismo da Globo quer usar. Glória Maria foi a primeira, em uma sexta-feira de setembro, apresentando o "Globo Repórter", naquela noite dedicado à Áustria. A segunda a vestir o modelo, nove dias depois, em um domingo, foi Glenda Kozlowski, apresentadora do "Esporte Espetacular". Quem será a terceira?
Senta, levanta, senta: O tradicional "Jornal Nacional" estreou novo cenário e nova atitude de seus apresentadores este ano. O que chamou mesmo a atenção foi a informalidade de William Bonner e Renata Vasconcellos, que agora caminham pelo cenário, entrevistam correspondentes e até dão notícias em pé. A moça do tempo, Maria Julia Coutinho, consagrou o estilo. A mudança causou muita polêmica. Criador do JN em 1969, Boni não gostou das mudanças. "O que o espectador precisa ver ali? Se aquilo é verdade. O cara tem que sentar lá e fazer sério. Agora, levantar, botar apelido, chamar de Maju, isso não tem sentido."
"My frevo is not good": O esforço de apelar para a informalidade também alcançou a Record. Tentando fazer uma graça, ao fim de uma reportagem sobre os Jogos Pan-Americanos, em Toronto, Adriana Araujo ensaiou uns passos de frevo. Mas ela própria reconheceu o insucesso da iniciativa: "My frevo is not good", disse ao entrevistado. Em São Paulo, apresentando o "Jornal da Record", Janine Borba concordou, com muita sinceridade: "Tchau Adriana, até amanhã! E sem frevo viu? Por que você é melhor jornalista".
"Paulista é esquisito": Em uma rara entrevista que deu para tentar explicar o fracasso de "Babilônia", Gilberto Braga saiu com essa, responsabilizando o público de São Paulo pela rejeição à novela. A entrevista é repleta de confissões sinceras, como as mudanças que foi obrigado a fazer na trama, bem como a tristeza que sentiu ao ver a novela das 19h, "I Love Paraisópolis", superar a sua.
"Preciso pagar as contas": Na Globo desde 1978, Kadu Moliterno não teve o seu contrato renovado em 2015. "Senti o baque, claro, porque foram 35 anos de um vínculo, renovado de quatro em quatro anos", disse o ator. Contratado para atuar em um novela da Record, explicou: "Estava no mercado e como qualquer profissional, eu tenho que trabalhar para ganhar dinheiro. Preciso pagar as contas. Tenho a certeza que vou ser feliz na minha nova casa assim como fui na Globo."
"Teste do sofá hétero": Diretor de um dos grandes sucessos de 2015, a novela "Verdades Secretas", o diretor Mauro Mendonça se atrapalhou ao explicar que, nos dias de hoje, atores homossexuais ainda são contratados se aceitam se submeter a caprichos sexuais de autores ou diretores. "O teste do sofá hétero" não existe mais, disse. Porém: ""Sim, as meninas já chegam com 18, 19 anos e ferram com nossas vidas, podem acabar com você, entendeu? Os meninos, os bofes, chegam e te dão uma espinafrada. Já os gays chegam com os olhos arregalados, o pessoal vai em cima direto."
Excesso de exposição: A passagem de Caio Castro pelo "Domingão do Faustão", onde foi homenageado no quadro "Arquivo Confidencial", foi repleta de polêmicas e constrangimentos. O ator se mostrou incomodado com a exposição da ajuda que deu a uma menina doente e não gostou nada de ouvir uma ex-professora falar que dormia em aula e cometia "erros de português grotescos".
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.