Miele começou como “quebra galho” e foi um “faz tudo” no show business
Mauricio Stycer
14/10/2015 12h05
Luiz Carlos Miele (1938-2015) deixou um livro de memórias, "Poeira de Estrelas" (Ediouro), publicado em 2004. É um apanhado de histórias e causos divertidos, que dão uma boa ideia de sua trajetória artística – fez praticamente de tudo em sua carreira como produtor de shows, ator, humorista e, não menos importante, boêmio.
O livro é caótico, no bom sentido – um pouco como foi a sua carreira. Não obedece a nenhuma cronologia, nem está preocupado em explicar muito o contexto das situações que viveu. Em uma mesma página, ele conta histórias passadas em três décadas diferentes.
Filho de uma cantora e atriz de rádio, Regina Macedo, Miele começou a sua carreira ainda criança, na rádio Excelsior, em um programa intitulado "Meu filho, meu orgulho". Segundo o seu relato, o menino contratado para fazer o programa ficou muito nervoso e não conseguiu gravar.
"Foi quando minha mãe, que havia recebido meus últimos boletins do colégio, que antecipavam que eu estava longe dos destinos dos médicos, advogados, economistas e presidentes da República, resolveu que era hora de eu tentar outra coisa". "Acho que meu filho pode quebrar esse galho", teria dito Regina, dando o pontapé inicial na carreira do filho.
Paquerou, ou foi paquerado, por Liza Minnelli, entrevistou Gene Kelly, foi "chapa" de Stevie Wonder… Fez tudo no show business.
Em parceria com Ronaldo Bôscoli (1928-1994), produziu centenas de shows – os mais importantes deles os de Elis Regina (1945-1982): "Foi a única artista com cujo talento não me acostumei", diz no livro.
Miele fala pouco de seus trabalhos na televisão. "Quebrou um galho", como diria a sua mãe, nas mais variadas produções – desde contracenar com Topo Gigio em "Mister Show" (1970), até apresentar festivais de música ("MPB 80"), passando pelos principais humorísticos da Globo, como "Faça Humor, Não Faça Guerra" (1970), "Satiricom" (1973) e "Planeta dos Homens" (1976).
Também trabalhou na Manchete, em "Miele & Cia." e "Ele & Ela", com Leila Richers. E, quem não se lembra, comandou um clássico trash no SBT, em 1991-92, o programa "Cocktail".
Falando da morte de vários amigos, a certa altura do livro, Miele observa que pediu para registrarem em seu epitáfio: "Aqui jaz, absolutamente contra a vontade, Luiz Carlos d´Ugo Miele". De fato, "Poeira de Estrelas" confirma a alegria de viver que Miele sempre deixou transparecer.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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