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Melhem vê 'provocação' e não homofobia em piada com o São Paulo no “Zorra”

Mauricio Stycer

14/09/2015 15h07

O quadro de abertura do "Zorra" neste sábado (12), sobre o enterro de um soldado gay, provocou indignação ao mostrar uma bandeira do São Paulo durante a cerimônia. Para muita gente, a piada reforçou um preconceito ao associar um torcedor do clube à questão da sexualidade.

"A Globo, em rede nacional, incentiva o preconceito. A Globo, em rede nacional, compactua com a homofobia", protestou o jornalista Luis Augusto Simon, o Menon, em seu blog no UOL Esporte (leia aqui: Rede Globo, homofobia e hipocrisia contra o São Paulo F.C.)

Há dois meses, reproduzi em meu blog afirmações feitas por Marcius Melhem, um dos criadores do "Zorra", justamente sobre este assunto. Na ocasião, ele afirmou que não permitia a inclusão de piadas de cunho homofóbico no programa. "Este momento em que o país vive, de muita intolerância, não permite que a gente abra este flanco. Vamos ridicularizar quem é homofóbico", disse.

Nesta segunda (14), depois de ler o texto do meu amigo Menon, procurei Melhem para ouvir a sua opinião sobre a polêmica. Segue abaixo um resumo da entrevista:

Você viu a repercussão do quadro de abertura do "Zorra"? Concorda que foi homofóbico?
A provocação era justamente ver a leitura das pessoas. Veja bem: o militar gay que morreu foi colocado como um herói. Ser gay não era uma questão para o Exército. Esse dado positivo passa quase despercebido. Mas sabíamos que as pessoas iam focar na bandeira do São Paulo. E nossa intenção era tirar o preconceito do armário.

É uma ofensa um gay ser são paulino? Algum são paulino se sente ofendido se um gay torcer para o seu time? Essa antiga brincadeira (aí sim, homofóbica) é que queríamos levantar pra discussão. Alguns torcedores do São Paulo pediram um posicionamento do clube. Eu gostaria realmente de saber se o São Paulo Futebol Clube se ofende em ter homossexuais torcendo pro seu time. Levantar questões é a nossa missão. E sábado fizemos de novo. Só de estar sendo discutido já valeu. Eu faço parte de um programa que claramente é anti-homofobia. Por isso quisemos provocar mais essa questão.

Acho que a intenção da provocação não foi compreendida.
Talvez. Muitos entenderam. Mas tem muita gente com pedras na mão já esperando pra atirar. Sem nem tentar entender a leitura. Sofremos isso com (o quadro sobre) Casas Bahia no "Tá no Ar". Era a favor da questão do negro no país. Mas foi só mexer no tabu que parece que estamos sacaneando.

O quadro do "Zorra" pode ser visto aqui.

Atualizado às 22h: Em seu perfil no Instagram, o São Paulo FC publicou na noite de segunda-feira uma mensagem, na qual diz ser "contra qualquer tipo de discriminação". O texto parece dizer respeito a esta polêmica causada pelo "Zorra". Veja: "Somos o Clube que ama a Libertadores, e também a liberdade. Sonhamos com um mundo, que já conquistamos três vezes, muito melhor. Somos o Clube da Fé. E é com a Fé que carregamos no peito que acreditamos que todo mundo deve ser feliz. Respeitamos as diferenças, pois vejam só: amamos a união do vermelho, do branco e do preto. Aqui, o cartão vermelho é para o preconceito. Somos gigantes. Somos todos Tricolores. O São Paulo Futebol Clube é contra qualquer tipo de discriminação."

Veja também
Menon Rede Globo, homofobia e hipocrisia contra o São Paulo F.C
"No 'Zorra' é proibido piada homofóbica", conta Marcius Melhem

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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