“Babilônia” termina com cenas ridículas, muitos clichês e nenhuma graça
Mauricio Stycer
29/08/2015 05h01
Não pretendia voltar a escrever sobre "Babilônia", mas o desfecho da trama me obrigou a retornar ao assunto. Não me lembro de um último capítulo de novela das 21h tão ruim desde "Fina Estampa", em 2012.
A diferença é que a novela de Aguinaldo Silva pecou por uma única cena ridícula – uma passagem crucial, diga-se, a do naufrágio do barco onde estavam a protagonista Teresa Cristina (Christiane Torloni) e Pereirinha (José Mayer). O autor nunca se esqueceu do vexame e, dois anos depois do fim da novela, criticou o diretor Wolf Maia pela "patacoada".
Já a história de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga exibiu cenas mal construídas do início ao fim do capítulo.
Para início de conversa, o que foi a solução do "quem matou?" O malvadão Otavio (Herson Capri) matou Murilo (Bruno Gagliasso) por ciúmes, depois de ver uma cena em que o agenciador de garotas de programa seduzia Beatriz (Gloria Pires) com segundas intenções.
Na véspera, no penúltimo capítulo, Otavio já havia protagonizado outra cena ridícula, ao mandar Osvaldo (Werner Schünemann) sequestrar Diogo (Thiago Martins) com o único objetivo de descobrir como o saltador foi capaz de seduzir Beatriz. Só rindo.
Pouco antes de Otavio ser desmascarado, Beatriz confessou diante de vários personagens ter matado Cristovão (Val Perré), mas os autores ignoraram a própria cena e, momentos depois, Inês (Adriana Esteves) foi condenada por este crime.
Em tom de galhofa, Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira) estava sendo empossado como governador do Rio quando a Polícia Federal chega e anuncia aos gritos a sua prisão. Consuelo (Arlete Salles), mãe do político, indicada como vice-governador, assume o cargo.
Também foi pouco inspirada a solução dada às vilãs Beatriz e Inês. Elas foram colocadas numa mesma cela da prisão (óbvio demais), onde se estapearam, e depois fugiram juntas, num carro, percorrendo uma estrada de terra. Naturalmente, brigaram de novo e o veículo despencou de uma ribanceira com as duas dentro.
Muita gente achou que era cópia do filme "Thelma e Louise", que termina dessa forma, mas vi também inspiração em um dos segmentos do filme "Relatos Selvagens". Original a cena não foi.
Houve alguma ousadia no desfecho do triângulo entre Valeska (Juliana Alves), Norberto (Marcos Veras) e Clovis (Igor Angelkorte). Casada com o primeiro, a morena terminou sua participação na novela fazendo sexo oral no segundo.
O casal formado por Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) voltou a dar um beijo na boca, como no primeiro capítulo. Ivan (Marcello Melo Jr) e Sergio (Claudio Lins) também selaram a sua união com um beijo. Só pode no último capítulo?
A novela terminou com declarações de amor dos dois casais "do bem", ambos em clima idílico e açucarado – Rafael (Chay Suede) e Lais (Luisa Arraes) e Vinicius (Thiago Fragoso) e Regina (Camila Pitanga).
O último capítulo, em resumo, pareceu escrito às pressas, sem cuidado, com soluções mal ajambradas (o caso de Otavio), muitos clichês (Inês e Beatriz) e sem graça alguma (Vinicius e Regina). Uma decepção ainda maior do que foi "Babilônia" ao longo dos seus 143 capítulos. Para esquecer.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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