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Apesar de tudo, cinco bons momentos de “Babilônia”

Mauricio Stycer

26/08/2015 05h01


A intensa campanha de lançamento e o eletrizante capítulo de estreia de "Babilônia" produziram uma expectativa enorme em relação ao retorno de Gilberto Braga ao horário nobre da Globo. A decepção que se seguiu foi, proporcionalmente, gigante.

"Babilônia" sofreu por suas qualidades e defeitos. Seus principais trunfos – os temas polêmicos que abordou – desagradaram parte do público, levando a Globo a exigir mudanças na novela. Por outro lado, a história se revelou pobre, sem grandes atrativos para ser seguida.

Esta combinação de problemas resultou, como era possível imaginar, em queda de audiência. "Babilônia" começou a cair no Ibope e a perder, com freqüência, para a novela das 19h30, "I Love Paraisópolis" – uma "humilhação diária", nas palavras do autor.

Objetivamente, a novela termina como um "fracasso". Tanto do ponto de vista de audiência quanto de recepção crítica, não há outra palavra para definir o resultado em seu conjunto. Seria injusto, porém, ignorar vários aspectos positivos de "Babilônia" – temas, personagens e situações que merecem ser lembrados.

Cito abaixo cinco bons momentos da novela também assinada por Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Caso você se lembre de outros, fique à vontade para comentar.

O beijo: Talvez a cena mais polêmica de "Babilônia", exibida no primeiro bloco do capítulo de estreia. O beijo entre Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) procurou passar a ideia de que aquele casal de idosas mantinha uma relação amorosa como outra qualquer. Parte do público, porém, entendeu a cena como uma agressão. O cartunista Ziraldo criticou Fernanda por "fazer apologia do afeto homossexual". A atriz Regina Duarte considerou "precipitada" a forma como foi colocado o beijo, logo no primeiro capítulo. As duas ainda se casaram, mas, tirando um selinho, nunca mais se beijaram na boca na novela.

  Religião e política: Por meio de dois personagens evangélicos, Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira) e sua mãe, Consuelo (Arlete Salles), "Babilônia" discutiu um tema contemporâneo, a confusão entre religião e política. Aderbal representou o prefeito de uma pequena cidade, Jatobá. Populista, se fez passar por homem simples, tentando esconder da população que era rico. Despudoradamente corrupto, fez negócios escusos com parentes e empreiteiras. Infiel, traiu a esposa com várias mulheres. Consuelo o orientava do ponto de vista moral, com pensamentos racistas e homofóbicos. A hipocrisia de ambos causou desconforto.

O amoral: Murilo (Bruno Gagliasso) foi um dos melhores personagens de "Babilônia" até se perder e virar um psicopata obcecado por matar o irmão de criação, Vinicius (Thaigo Fragoso). Ele vivia como agenciador de garotas de programa para homens ricos. Também lidava com pequenos traficantes de drogas e, bom de lábia, enganava a todos. Dissimulado, se fazia de vítima para a mãe, Olga (Lu Grimaldi) e para a namorada, Alice (Sophie Charlotte). Enquanto não foi podado pelos autores, Murilo permitiu a Gagliasso viver um grande papel na TV.

Homofobia: Outra trama a sofrer percalços, a história de Ivan (Marcello Melo Jr.), ainda que modificada, permitiu ao público enxergar o preconceito arraigado contra homossexuais. Negro, morador do Babilônia e gay assumido, Ivan foi severamente hostilizado por outros personagens. Na reta final, os autores mostraram o seu atribulado romance com Sergio (Claudio Lins), um personagem que não tinha coragem de revelar a sua homossexualidade.

Advogada negra: Ao ser promovida a sócia do escritório de Teresa, a advogada Paula (Sheron Menezzes) disse: "Sabe o que eu queria fazer com esse cheque? Esfregar na cara de todas as pessoas que riram de mim por eu ter entrado na faculdade pelo sistema de cotas". A promessa de uma interessante personagem, porém, não se cumpriu. Paula deixou de morar no morro da Babilônia e se mudou para o "asfalto", mas a sua história, como outras, não se desenvolveu e ficou pela metade do caminho.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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