"Verdades Secretas” humilha “Malhação” ao retratar adolescentes
Mauricio Stycer
21/07/2015 05h01
Walcyr Carrasco foi muito bem-sucedido em provocar polêmica e chocar o público com um enredo sobre prostituição no mundo das modelos, muitas cenas de nudez e sexo, além de diálogos fortes e nada naturais.
São estes elementos, muitos deles forçados ou implausíveis, que têm garantido, acredito, boa audiência a "Verdades Secretas".
Dois outros aspectos merecem destaque, na minha opinião. Um, já observado pelo crítico Nilson Xavier, é a qualidade da direção de Mauro Mendonça Filho. Claramente interessado que "Verdades Secretas" seja vista não como uma novela, mas como um seriado, o diretor tem sido bem-sucedido em propor alternativas à encenação tradicional de um folhetim deste tipo, de linhagem realista.
Um dos melhores momentos da novela, até agora, foi o encontro de Angel, detida como garota de programa, com sua avó, Hilda (Ana Lucia Torre), na delegacia. Sem saber ainda que a menina se prostituía, ela vai entendendo a situação aos poucos, num momento de alta carga dramática. É uma cena antológica, na minha opinião, em que o texto de Carrasco, excepcionalmente contido, e a direção de Mendonça, muito elegante, se casaram à perfeição.
Mais do que Alex ou a dona de agência e cafetina Fanny (Marieta Severo), Giovanna e Angel são as verdadeiras protagonistas da história. Uma rica e abusada, a outra de origem humilde e oprimida, elas oferecem um olhar incomum, na televisão, sobre o adolescente hoje.
Não deixa de ser curioso que este aspecto de "Verdades Secretas" chame menos atenção do que o "book rosa" ou o plano mirabolante de Alex para se casar com a mãe de Angel. É como se o público estivesse preferindo não ver o que há de mais forte, realmente, na novela.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.