Sem graça alguma, “Tomara que Caia” vale pelo risco de testar novo formato
Mauricio Stycer
20/07/2015 01h06
Há muitos anos as emissoras brasileiras têm recorrido à compra de formatos estrangeiros na esperança de resolver problemas na programação. Muitos destes programas costumam ser variações de atrações mais do que manjadas pelo público brasileiro.
Na ocasião, Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da emissora, assim descreveu a proposta do grupo: "Estamos nos forçando um pouco a desenvolver formatos brasileiros. A gente vai muito atrás do mercado mundial e fica um pouco refém. Por que a gente, com a capacidade criativa gigantesca, não cria?"
"Tomara que Caia" é o primeiro fruto deste "empurrão" dado pelo principal executivo da Globo. O fórum até ganhou crédito no final do programa (imagem acima). "É um formato original, uma criação da nossa equipe, não é baseado em nada. É interativo, é game, é reality, é show, é improviso, é humorístico. O espectador vai participar bastante", resumiu o diretor Boninho.
Diversas situações (ou "trolladas") são sugeridas ao longo da encenação para dificultar a vida de quem está no palco. A votação ocorre via aplicativo baixado em smartphones – um processo semelhante ao usado no "SuperStar".
A intenção do programa, assim como ocorreu com o concurso musical, é claramente a de flertar com a parcela do público mais jovem, já sintonizada com redes sociais, aplicativos de celular e outros gadgets. Um dos lemas do programa é: "Porque aqui o dono da piada é você".
Muita gente viu semelhanças na proposta do "Tomara que Caia" com o "Quinta Categoria", exibido pela MTV, em 2008, e o "É Tudo Improviso", apresentado pela Band, em 2009, ambos com a participação da Cia Barbixas de Humor, que também esteve presente no novo programa da Globo.
Na estreia, "Tomara que Caia" fracassou de forma retumbante na missão de fazer rir. A história era boba e, talvez por conta do nervosismo, poucos atores conseguiram se soltar e se divertir.
No Twitter, onde se concentra parte do público-alvo da nova atração, o programa foi muito "trollado" e virou piada para milhares de usuários.
Ainda assim, acho que a aposta em um formato original merece apoio. Pela sua tradição e tamanho, a TV brasileira tem a obrigação de desenvolver programas próprios. E só vai aprender fazendo. "Tomara que Caia" merece, ao menos, a chance de se desenvolver melhor.
Audiência: "Tomara que Caia" registrou média de 12,9 pontos no Ibope na Grande SP (cada ponto equivale a 67 mil domicílios). Arredondado, o resultado é o mesmo do obtido pela final do "SuperStar" há uma semana (13,2). O programa foi líder de audiência no horário, seguido por SBT (8,4), Band (5,7) e Record (4,6).
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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