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Assim como você, espectador, Leifert chorou porque vai mudar de rotina

Mauricio Stycer

06/07/2015 15h00


Tiago Leifert abriu o "Globo Esporte" desta segunda-feira (06) anunciando que iria chorar. Em seguida mostrou uma caixa de lenços colocada especialmente no estúdio para a ocasião. Era o seu último dia à frente do programa.

Quando o carisma no jornalismo de TV é acima da média, caso de Leifert, o destino agora obrigatório é o mundo do entretenimento, que busca desesperadamente rostos capazes de conferir credibilidade a atrações leves, sem compromisso com a realidade. Testado com sucesso no "The Voice Brasil", ele agora vai se mudar de vez para o Projac, integrando a equipe do programa "É de Casa", a ser exibido aos sábados.

Mas tenho certeza de que não foi por isso que anunciou que iria chorar — e, como se esperava, chorou bastante no bloco final. Em meio a palavras de agradecimento ao público e à equipe do "Globo Esporte", levou uma mão ao rosto e deixou as lágrimas escorrerem.

Ivan Moré, a quem passou o bastão, chorou igualmente — pela segunda vez em dois dias. Na véspera, ao se despedir do "Esporte Espetacular", Moré também já havia chorado.

É muita emoção junta, ao vivo. E não consigo deixar de pensar que esse chororô todo, por mais natural que tenha sido, cumpre uma função cada vez mais importante no jornalismo da televisão – a de dizer para o espectador que os apresentadores são gente como a gente, na alegria e na tristeza.

Como o próprio Leifert explicou, a razão do choro é a mais boba e comezinha possível:

"Você talvez achem bobagem a gente chorar no ar. 'Mas que bobagem, esses apresentadores, tudo rico, chorando no ar!'. Isso aqui é a nossa vida. A gente é realmente o que a gente faz. A gente gosta demais disso tudo. Essa rotina que a gente leva no esporte, ela determina os nossos horários, o que a gente faz, o nosso fim de semana. Isso muda muito a nossa vida. É uma mudança de rotina brutal e é por isso que a gente se emociona desse jeito".

A informalidade, de um modo geral, é entendida hoje como uma obrigação no jornalismo da TV. Parece haver a convicção de que a atitude dos apresentadores seja capaz de deter a fuga do público rumo a outros canais de informação. E nenhuma atitude parece ser mais eficaz do que esse jeito natural de Leifert, que desabou no choro porque vai mudar de rotina.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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