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Para segurar a audiência, nada melhor que a cobertura ao vivo de um drama

Mauricio Stycer

25/06/2015 05h01

Vinte e quatro horas depois da morte de Cristiano Araujo, o tamanho da cobertura que as principais emissoras de TV aberta estão dando ao fato intriga não apenas a quem ignorava solenemente o cantor como também aos seus próprios fãs.

As circunstâncias dramáticas da morte – tinha apenas 29 anos, voltava de um show, a namorada também faleceu no acidente – certamente contribuíram para aumentar a comoção. Além de ser muito querido pelos colegas, tinha um grande fã-clube jovem, o que também ajudou a elevar a ressonância do drama.

Ainda assim, é difícil entender o espaço que o caso tomou. A Globo, como escrevi, chegou a alterar a sua programação, cancelando a Sessão da Tarde, para dedicar mais tempo a uma cobertura que começou nos telejornais matinais, prosseguiu no "Mais Você", "Encontro com Fátima Bernardes" e se estendeu no "Video Show" especial, que ficou no ar até as 16h40 de terça-feira (24).

As demais emissoras também se desdobraram ao longo do dia – Record, RedeTV!, Band e até Gazeta. Foi um festival de flashes ao vivo de Goiânia, onde o cantor vivia e foi velado, análises e especulações sobre as causas do acidente, entrevistas com amigos e colegas, além de reprises de números musicais.

À noite, houve uma disputa particular entre Gugu Liberato e Ratinho pelo direito de tratar do assunto de forma mais dramática. Enquanto o apresentador do SBT se vangloriava de ter sido o primeiro programa nacional a receber Cristiano, seu colega da Record prometia apresentar o áudio da última entrevista do cantor.

Uma pergunta comum no Twitter, diante desta cobertura avassaladora, era: como será que as emissoras vão se comportar no dia em que artistas bem mais famosos morrerem?

É sintomático desta preocupação um comentário de Otaviano Costa durante a exibição do interminável "Video Show" de terça-feira. O apresentador disse que, como muita gente, não conhecia o cantor e estava impressionado com a comoção gerada pela sua morte.

Tenho a impressão que parte da energia investida na cobertura da morte de Cristiano Araujo se explica pela fuga de audiência da TV aberta. É preciso segurar o espectador a qualquer custo – e nada melhor para isso do que uma cobertura ao vivo de uma tragédia, mesmo que o seu protagonista não seja conhecido por parte do público.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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