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“Mariana Godoy Entrevista” ainda não conseguiu deslanchar

Mauricio Stycer

08/06/2015 13h54

No ar já há um mês, exibido às sextas-feiras, no final da noite, "Mariana Godoy Entrevista" é a principal aposta da RedeTV! no esforço de angariar credibilidade e contrabalançar o apelo popularesco de boa parte da sua programação.

É muita responsabilidade e Mariana ainda não encontrou a melhor forma de lidar com isso. Como fazer um programa sério e ao mesmo atraente, agradável de ver? A dificuldade da apresentadora é ainda maior pelo fato de o talk show ser ao vivo – uma ousadia e tanto na TV aberta.

A escolha dos convidados dá uma ideia do prestígio de Mariana e, ao mesmo tempo, da dificuldade colocada para a entrevistadora. Nos primeiros quatro programas, ela recebeu Eduardo Cunha (presidente da Câmara), Geraldo Alckmin (governador de São Paulo), Carlos Gabas (ministro da Previdência), Roberto Freire (deputado federal) e Fernando Haddad (prefeito de São Paulo).

Nenhuma destas entrevistas foi boa. Treinados e, ao mesmo tempo, claramente desconfortáveis, os políticos repetiram basicamente as palavras que estão acostumados a dizer.

Não à toa, apenas dois raros momentos inesperados ocorreram até agora. Cunha, no programa de estreia, tocou um pouco de bateria, um hábito que cultiva na intimidade. E Alckmin, ao falar do filho recém-falecido, emocionou o público.

Motivo de justo orgulho, o fato de o talk show ser ao vivo está atrapalhando o seu andamento. Além do nervosismo, natural, a todo instante Mariana pede ao repórter Mauro Tagliaferi que leia perguntas enviadas por espectadores pelo Twitter. Raramente são boas questões e quebram o ritmo das entrevistas.

O quinto programa, exibido nesta última sexta-feira (05), mostrou uma luz no fim do túnel. Pela primeira vez o principal entrevistado não foi um político, mas um empresário – e ainda por cima polêmico. Eike Batista mostrou-se bem à vontade, medindo menos as palavras, o que ajudou a conversa com Mariana a fluir.

Pensando nos cincos programas exibidos até agora, tenho a impressão que a apresentadora ainda está em busca do tom certo para a atração. O que é natural. Às vezes, parece informal demais (chamou Eike de "cara", por exemplo). Também ainda não encontrou o equilíbrio entre a cordialidade (obrigatória) e a firmeza (necessária) para interromper discursos pré-fabricados e propor novos rumos às conversas.

A audiência na Grande São Paulo segue baixa, mas dá sinais de crescimento. Depois de uma estreia em que marcou apenas 0,6 de média, o programa registrou o seu melhor resultado nesta última sexta-feira, com média de 1,6. Espero que a RedeTV! tenha a paciência necessária para ajudar "Mariana Godoy Entrevista" a encontrar o seu formato e deslanchar.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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