Malafaia transforma debate sobre moral na TV em pregação contra gays
Mauricio Stycer
24/04/2015 02h23
Em homenagem aos 50 anos da Globo, o "Na Moral" ganhou uma edição especial dedicada a discutir como "a moral da época se reflete na TV" e por que os vilões fascinam tanto os espectadores.
Apresentado por Pedro Bial, o programa foi ao ar já na madrugada desta sexta-feira (24) – um horário nada convidativo. A primeira parte do debate, centrada na forma como a televisão representa os homossexuais, foi um desastre completo.
Como de hábito, exaltado, procurou pregar sobre a homossexualidade do ponto de vista religioso e contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. A certa altura, para indignação dos demais participantes, comparou gays a prostitutas.
Os outros convidados, a desembargadora Maria Berenice Dias, o autor Silvio de Abreu e o apresentador Jô Soares, mal conseguiram tratar do tema proposto. Uma família de São Cristovão, apresentada como um modelo familiar típico, também participou do encontro, de dentro da casa onde ocorre o "BBB".
Antes de o programa ir ao ar, Malafaia divulgou um vídeo na internet reclamando que o debate não havia sido "democrático" porque a produção teria selecionado três pessoas com posições semelhantes entre si para se oporem a ele. Durante a exibição, vendo a repercussão de suas falas, escreveu no Twitter: "A gayzada tá nervosa aqui. kkkkk". Encerrado o "Na Moral", o pastor voltou atrás em sua crítica à emissora: "a Globo não fez covardia comigo", anotou em seu perfil na rede social.
Na verdade, se a intenção era de fato discutir como a moral se modificou ao longo dos 50 anos da Globo, a escolha dos participantes não foi a melhor. Quem já assistiu a qualquer entrevista de Malafaia sabe que ele não debate, apenas repete um mesmo discurso de púlpito – como políticos em campanha eleitoral.
A segunda parte do programa, sem Malafaia e Maria Berenice, e com o psicanalista Francisco Daudt e a juíza Andréa Pachá, tratou do fascínio que o público de novelas sente pelos vilões. Foi um debate mais civilizado e compreensível, ainda que muito corrido, como é prática no "Na Moral".
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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