Mesmo com arsenal de truques, “Boogie Oogie” não decolou e acabou cansando
Mauricio Stycer
06/03/2015 05h01
O final de "Boogie Oogie" nesta sexta-feira pormete ser de tirar o fôlego, como foi o primeiro capítulo. A novela de Rui Vilhena chamou a atenção pelo arsenal de truques que usou, mas uma análise mais cuidadosa do seu conteúdo mostra que deixou muito a desejar.
"Boogie Oogie" se passou em 1978, ano em que foi ao ar "Dancin´Days", de Gilberto Braga. Mas, com exceção de algumas cenas na discoteca, os carros e os figurinos dos personagens, é difícil classificar a trama como uma novela de época.
Para não dizer que não falou da ditadura, a novela tinha um personagem militar, Elisio (Daniel Dantas), que tentava tratar os filhos como soldados no quartel.
Esta opção diz muito do objetivo do autor – e, imagino, da emissora – de tentar levantar o horário das 18h com uma novela explicitamente sem ambição histórica, dedicada somente ao entretenimento mais óbvio.
Todo capítulo tinha drama, correria, briga, gritaria, entra-e-sai, revelação, vai-vém, separação, mais drama, outra revelação, mais correria. Da metade para o fim, tendo que esticar a novela além do planejado, Vilhena não conseguiu mais manter este ritmo e a novela decaiu bastante.
O personagem mais interessante, o ricaço Fernando (Marco Ricca, à dir.), acabou resvalando várias vezes na caricatura ao tentar administrar quatro mulheres e terminou a novela como um bobão. Outra boa personagem, Beatriz (Heloisa Perissé), teve a chance de discutir questões ligadas à emancipação da mulher, mas o papel não evoluiu.
Lembro que o horário das 18h tem sido, nos anos recentes, o mais bem servido pela Globo em matéria de novelas originais. Cito algumas: "Cordel Encantado" (2011), "A Vida da Gente" (2011/12), "Lado a Lado" (2012/13), "Meu Pedacinho de Chão" (2014).
"Boogie Oogie" conseguiu chamar a atenção, inicialmente, por passar a impressão de frescor mesmo utilizando com total sem-cerimônia os recursos mais batidos do folhetim. Mas a novela acabou cansando – e é sintomático que, apesar de todos os truques que usou, não tenha sido um sucesso de audiência.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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