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RIP: Candidato a pior do ano, “Tá na Tela” deu aula de sensacionalismo

Mauricio Stycer

08/12/2014 12h28


Em outubro, a convite da revista "Trip", fui o mediador de uma conversa sobre o presente e o futuro da televisão com a participação de Marcelo Tas, apresentador do "CQC", da Band, e Rogério Gallo, vice-presidente da Turner no Brasil.

A certa altura da conversa, sem citar nomes, Tas mencionou uma estratégia equivocada que vê na TV aberta: os investimentos realizados em programas de baixo nível, com o único objetivo de elevar a audiência média das emissoras.

Vários programas se encaixam neste padrão. Mas vou me limitar a falar de "Tá na Tela", que a Band lançou, com toda pompa, em agosto e acaba de anunciar que vai ser cancelado.

Forte candidato a pior programa do ano, o "Tá na Tela" ajuda a entender como funciona o populismo e o sensacionalismo na TV.

Como já dizia na Record, onde apresentou um programa de muito sucesso defendendo a tese de que Michael Jackson (1958-2009) está vivo, o apresentador Luiz Bacci argumenta que só mostra o que "o povo" quer ver.

No "Tá na Tela", essa disposição se refletiu em um cardápio tão eclético quanto bizarro, incluindo a exibição de crimes bárbaros, dramas de celebridades, esoterismo, trânsito, tudo sempre apresentado aos gritos, com a mesma gravidade, no esforço de manter o espectador em estado de alerta.

Todo programa precisa de público para sobreviver, mas há uma diferença significativa entre a postura de quem consegue Ibope em consequência do conteúdo exibido e a de quem parece somente preocupado em inventar estratégias para fisgar a audiência.

Sem sutileza alguma, programas como o "Tá na Tela" não conseguem esconder que estão pouco se lixando para o que expõem. O único objetivo é o número do Ibope.

Cito três características da atração comandada por Bacci que deixam isso claro: 1. o recurso ao suspense, como se estivesse tratando de histórias de ficção e não reais; 2. a facilidade com que deixa assuntos pela metade ou inconclusos no ar; 3. o desinteresse em dar seguimento, em outros programas, a histórias realmente dramáticas exibidas.

A Band não deixou claro o que está por trás da decisão de cancelar o "Tá na Tela". Mas espero que o fracasso do programa ensine alguma coisa tanto à emissora quanto ao rei da "bacciaria".

Em tempo: A sigla "RIP" usada no título deste texto vem do latim "requiescat in pace", popularizada em inglês como "rest in peace", ou "descanse em paz".

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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