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Drama denso, de qualidade, “Conselho Tutelar” merecia mais que 5 episódios

Mauricio Stycer

02/12/2014 01h49

"Conselho Tutelar", série em cinco episódios que a Record exibe até sexta-feira (05), merece a atenção do espectador. Não apenas por ser uma produção de ótima qualidade, com um enredo original, e história cativante, mas também por reforçar a ideia de que a TV aberta segue firme, contra todos os prognósticos, na produção de bom conteúdo original brasileiro.

As principais produtoras independentes e os canais pagos têm investido em séries cômicas ou em dramas leves, sintetizados em episódios de 30 minutos. Apostas em histórias mais densas, com duração de 40 a 50 minutos, ainda são exceção (caso de alguns seriados da HBO).

Entre altos e baixos, Globo ("Amores Roubados", "A Teia", "O Caçador", "Dupla Identidade") e Record ("Plano Alto") não fizeram feio em 2014.

"Conselho Tutelar" é mais um bom exemplo. A história gira em torno dos problemas que conselheiros de um desses órgãos de proteção a crianças tentam resolver no dia-a-dia. Dois são os protagonistas, o veterano Sereno (Roberto Bomtempo) e o novato César (Paulo Vilela). Além deles, há o juiz (Paulo Gorgulho) e o promotor (Petrônio Gontijo), que colocam pedras no caminho dos "super-heróis".

A série é inspirada em fatos reais e se propõe a estimular a denúncia anônima de maus-tratos a crianças. O episódio de estreia contou o caso de uma médica bem-sucedida (vivida por Lucinha Lins), que agredia a filha adotiva – história semelhante a uma ocorrida no Rio, em 2010, com uma procuradora de Justiça.

Escrito por Marco Borges e Carlos de Andrade e com direção-geral de Rudi Lagemann, "Conselho Tutelar" desenha um quadro pouco animador deste sistema de proteção a crianças. Os conselheiros são idealistas, mas obrigados a lidar com a falta de recursos do órgão. O juiz demonstra pouco entusiasmo com o trabalho, mas é vaidoso. E o promotor se mostra açodado, interessado em boicotar o esforço dos conselheiros tutelares.

O episódio em 50 minutos permite aos autores esboçar melhor os dramas e, também, os cotidianos dos personagens. O protagonista Sereno, como outros heróis de seriados, tem uma vida pessoal atrapalhada e está sempre em dívida com a ex-mulher e o filho pequeno. Para complicar, Flavia (Cássia Linhares) namora o promotor André, a pedra no sapato do ex-marido.

O texto do seriado tem um ou outro excesso, que poderia ser evitado. Frases pomposas, como "o problema é que você olha para o diploma, não para o coração das pessoas". Ou "você cuida dos filhos de todos, menos do seu". Mas, de um modo geral, a julgar pelo primeiro episódio, "Conselho Tutelar" é muito envolvente.

Só lamento que esta boa história, que certamente renderia uma dezena ou mais de episódios, tenha se limitado a cinco capítulos. O horário tardio de exibição, a partir das 23h30, também não é dos mais convidativos. Merece uma segunda temporada.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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