“Bacciaria”: Band abusa de sensacionalismo na estreia de apresentador
Mauricio Stycer
04/08/2014 16h59
No esforço de impressionar o público em sua estreia na Band, o apresentador Luiz Bacci tratou de dez crimes diferentes em pouco mais de 30 minutos, exibiu cenas de uma "cirurgia espiritual", repetiu bordões de outros programas policiais e ainda encontrou tempo de dar uma "cutucada" no "Fantástico", da Globo.
O programa, exibido entre 15h30 e 17h, abusou de sensacionalismo, ou "bacciaria", como brincou um espectador, fundindo o nome do apresentador com a palavra "baixaria".
"Tá na Tela" lembrou outros programas do gênero, como o "Cidade Alerta", apresentado por Marcelo Rezende na Record", o "Brasil Urgente", comandado por José Luiz Datena na mesma Band, além do "Domingo Show", de Geraldo Luis, também da Record.
"É exclusivo!!!", gritou Bacci anunciando insistentemente uma reportagem que só foi mostrada no final do programa. "Entrevista com suspeito de matar MC Daleste". Em outro momento, pediu aos berros: "Me dá o helicóptero!!!". A cobrança era para exibir um clássico dos programas vespertinos: "Sequestro em andamento: polícia caça bandido".
Empolgado (ou descontrolado) o responsável pelo gerador de caracteres alterava o letreiro a cada minuto: "Polícia matou pichador"; "Maníaco da moto preta ataca menina"; "Amor bandido: funkeira morta"; "O intrigante sumiço do dançarino famoso"; "Trabalhador atacado: câmara filma tudo".
Mudando de um assunto para o outro, e repetindo a promessa de explicar melhor os assuntos "daqui a pouco", "Tá Na Tela" não mostrou nada direito e, em muitos momentos, foi incompreensível. Em outros, foi apenas apelativo.
"Milagre ou ciência: saiba como estão os pacientes operados". Depois de exibir em detalhes uma "cirurgia espiritual" e de entrevistar o médium João de Deus, Bacci teve o cuidado de advertir: "Não se deve fazer isso em casa"
Ao exibir uma reportagem sobre Hilda Valentim, conhecida como "Hilda Furacão", Bacci anunciou: "Ex-prostituta famosa vive drama em asilo". Uma repórter da emissora foi a Buenos Aires conversar com Hilda, tal como o "Fantástico", da Globo", havia feito na véspera.
O apresentador reclamou: "O Fantástcio deve ter visto a nossa chamada durante a semana e foi lá falar do estado de Hilda Furacão", disse. Na verdade, quem primeiro mostrou a mulher no asilo em Buenos Aires foi o jornal "Estado de Minas", em reportagem publicada em 27 de julho.
A presença de um auditório foi meramente decorativa. A plateia serviu para aplaudir um anúncio testemunhal do apresentador e teve o privilégio de ver, por alguns segundos, cenas da "cirurgia espiritual" antes do público em casa.
Havia muita expectativa em relação à estreia de Bacci na Band. "Garoto de ouro", como apelidou Marcelo Rezende, o jovem jornalista é visto como uma promessa da televisão. Sua mudança para a Band envolveu altas cifras e a promessa, cumprida, de um programa para chamar de seu. Na estreia, infelizmente, não mostrou nada que outros programas do gênero já não fazem.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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