“Meu Pedacinho do Chão” fugiu do óbvio, surpreendeu e encantou
Mauricio Stycer
01/08/2014 17h55
Ao optar por narrar a história sob o ponto de vista de uma criança, Luiz Fernando Carvalho pode ter confundido parte do público, que entendeu estar diante de uma história infantil e não se interessou pela novela.
O diretor teve outros méritos, como escrevi algumas vezes ao longo destes meses. Extraiu desempenhos incríveis de atores que estavam com suas imagens atreladas a determinados tipos e pareciam incapazes de mudar. Revelou o potencial de atores menos conhecidos. Ousou na forma de narrar e apresentar a história. Brincou com vários gêneros da TV e do cinema.
É preciso fazer justiça a Benedito Ruy Barbosa, cujo belo texto deu sustentação a tudo isso. A adaptação que o autor fez de sua novela de 1971 ganhou em sutileza, leveza e graça. O que era um projeto de orientação didática no passado, se tornou uma história repleta de janelas oferecidas à reflexão do público.
Recomendo a leitura da longa entrevista que fiz com Carvalho no início desta semana. Na conversa, o diretor oferece uma visão bem transparente do seu método de trabalho e de suas ideias a respeito da televisão. Reproduzo um dos trechos mais significativos:
"Meu Pedacinho de Chão" deve terminar com uma média de audiência inferior a 18 pontos, menos que "Lado a Lado" e "Joia Rara", duas outras boas produções recentes que decepcionaram no Ibope. Não foi o "fracasso" ou "desastre" que muitos noticiaram, mas não ajudou a emissora a levantar a sua audiência no horário.
Como outros fãs da novela, lamento que "Meu Pedacinho de Chão" tenha terminado tão rápido. Essa sensação, positiva, é resultado não apenas da qualidade do trabalho, mas também da aposta em um formato mais curto, em torno de 100 capítulos. É uma experiência que merece ser repetida.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.