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Problema da Fifa com Suárez não é a mordida, mas a imagem da TV

Mauricio Stycer

27/06/2014 02h30

Estima-se que a Fifa vai arrecadar cerca de US$ 5 bilhões com a Copa de 2014. A principal fatia, responsável por mais da metade do total, vem da venda dos direitos de transmissão do evento para emissoras de TV de mais de 160 países. Em segundo lugar, aparece o que a entidade recebe dos seus patrocinadores, seguida da receita com o licenciamento de produtos e a venda de ingressos.

Dados da Copa de 2010 indicam que a Fifa faturou US$ 2,4 bilhões com a comercialização de direitos de transmissão e cerca de US$ 300 milhões com a venda de ingressos. Estes números deixam claro que o Mundial é hoje, basicamente, um evento de mídia – a assistência nos estádios é desimportante para o conjunto do negócio.

A severa punição ao jogador uruguaio Luis Suárez foi justificada pela entidade não exatamente pelo que aconteceu no campo, mas pela sua repercussão na TV. Assim está escrito no comunicado da Fifa: "Tal comportamento não pode ser tolerado em qualquer campo de futebol e, em especial, em uma Copa do Mundo em que os olhos de milhões de pessoas estão focados nas estrelas em campo."

Em outras palavras, Suárez foi suspenso por nove partidas de sua seleção e banido do futebol por quatro meses não por que acertou uma mordida no italiano Chiellini, mas por que as câmeras de TV registraram o momento em detalhes.

Muita gente, de boa vontade, lamentou que a Fifa não dedique aos problemas de corrupção interna o mesmo rigor usado no caso Suárez. Entendo a reclamação, mas é preciso lembrar que os engravatados envolvidos em tramoias nos bastidores do futebol costumam ser muito mais discretos que Suárez.


Em tempo: Um outro assunto que envolve mídia e Copa do Mundo diz respeito à avalanche de críticas feitas ao Brasil antes da realização do Mundial e, agora, à onda de elogios ao país. Um estudo feito em 2010 mostra que esta situação não é nada original. Com base na repercussão na imprensa americana de quatro Jogos Olímpicos diferentes (Pequim, Moscou, Seul e Barcelona), a pesquisa aponta a repetição de um padrão de comportamento: em todos estes mega-eventos, houve previsão de cenários catastróficos antes de começarem, seguido, depois de encerrados, por uma onda de elogios. Escrevi a respeito aqui: Ciclo de críticas e depois elogios à Copa segue padrão, mostra pesquisa.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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